Peixes

O idealismo aquariano é realmente em teoria algo muito bonito, e no momento em que surge é realmente necessário, mas ele peca pela absoluta frieza e desconsideração pelo fator humano e emocional. Não leva em conta a necessidade natural de segurança e apego ao que nos é caro. Aquário surge e destrói o antigo e a conseqüência disso é a dor, o caos e a loucura. Aquário derruba um império, mas não coloca nada em seu lugar, o que sobra é uma massa indiferenciada de tudo que em algum dia foi a antiga ordem. É o estágio pisciano, portanto, a loucura que insurge para substituir a genialidade e espírito avançado de aquário.

Virgem outrora cuidou da manutenção da ordem, num momento em que existia uma ordem, um objetivo, um rumo. No estágio pisciano, virgem perde a razão de continuar existindo. Já não há mais uma maneira de fazer as coisas, não existem mais regras, o “certo” e o “errado” tornaram-se conceitos confusos. Peixes é um estágio sem leis, sem um caminho delimitado, sem uma grande movimentação porque já não existe mais para onde ir. O que impera é a confusão e a nebulosidade diante da total incerteza em relação ao futuro. Neste estágio as reminiscências de um ciclo que morreu continuam vivas, vagando em um estado zumbificado, inconsciente e fantasmagórico.

Peixes é também um estágio de abundância. A queda das antigas estruturas expôs todos os tesouros guardados. Tudo aquilo que se havia reunido nas fases taurina, canceriana, escorpiana e sagitariana, e que outrora era guardado como relíquia, na fase pisciana torna-se apenas mais um componente da massa, perde-se em meio ao entulho, despe-se do antigo significado e fica agora exposto a tudo e a todos. É ao mesmo tempo uma abundância infinita dos mais variados recursos, associada a uma total inconsciência do valor material do que quer que seja. Mas estes recursos estão ali, agregados a sujeira e ao entulho oriundo das ruínas do antigo, disponíveis para quem for sábio e souber distinguir entre o que é válido e o que é ouro de tolo.

O tempo e o espaço perdem sua lógica no estágio pisciano, todos os parâmetros comparativos caíram, o limiar entre realidade e pura imaginação é vago. A realidade pisciana é dura, e o que se deseja neste estágio é esquecer, ficar cego diante do cenário aterrador e da ausência de horizontes. É a desistência e entrega total, o se permitir ser levado pela corrente coletiva pra onde quer que ela vá, já que o próprio caminho está perdido. É a ansiedade para que tudo termine logo, é uma passividade emergencial, um morrer consciente em meio a total inconsciência. É o alheamento mais profundo e absoluto que se pode imaginar. Existe abnegação, vontade de se sacrificar pelo que quer que seja numa forma de sair de si mesmo e não vivenciar a própria crise pessoal. É uma generosidade genuína, conseqüência da vontade desesperada de não olhar pra própria ausência de rumo. Peixes é também a amplidão e a infinita beleza do caos, do universo como um todo, indiferenciado e infinito de possibilidades de manifestação.

Escorpião se rejubila em Peixes, é a realização do propósito escorpiano de se levar as coisas até suas últimas conseqüências. Escorpião é também o signo que drena recursos de terceiros, que capta os complementos pra ampliar a própria força, e em peixes escorpião encontra caminho livre pra absorver a abundância na amálgama caótica e infinita de recursos piscianos. E Capricórnio, signo sábio, consciente do tempo e com um apurado senso de oportunismo, já previra que as coisas chegariam a este estado de caos e confusão, ele chega em peixes preparado, mantendo firmemente sua estrutura para atravessar a passagem que se aproxima e finalmente encontrar a verdadeira segurança(touro). Capricórnio e Escorpião são os mais aptos a aproveitar ao máximo tudo o que existe de disponível no oceano pisciano.

Então está tudo terminado, o fim se mostra ingrato e sem glórias, e sem perspectivas de um recomeço por si mesmo. Quem impera é a angústia, a sensação de que tudo que se viveu não adiantou de nada, e de que a partir de agora não existe nada para ser vivido que realmente valha a pena. O que se deseja é um retorno ao passado, à simplicidade, quando tudo parecia tão certo e grandioso, tão recompensador e cheio de glórias. Mas é em meio a este cenário desolador que surgirá a centelha de esperança, Áries, uma nova idéia, um novo rumo, um novo ciclo que irá se iniciar.