A constelação de Perseu

Perseu ou Perseus é uma constelação que fica na região norte do céu, não muito distante do equador celeste (a linha imaginária por onde ocorre o trânsito do sol). Está próxima das constelações de Áries e Touro. Na região desta constelação ocorre a chuva de meteoros conhecida como “Perséiades”, fenômeno em que se pode observar diversas estrelas cadentes e que é observado a mais de 2000 anos.

Perseu era filho do próprio Zeus com a mortal Danae, ele a visitou na forma de uma chuva de ouro, engravidando-a nessa forma de Perseu. As Perséiades seriam portanto uma referência a este feito do Deus dos deuses. Na Europa cristã este fenômeno é conhecido como “As lágrimas de São Lourenço”. O fenômeno é visível anualmente a partir de meados de Julho, registrando-se a maior atividade entre os dias 8 e 14 de Agosto, ocorrendo o seu pico por volta do dia 12.

Durante o pico, a taxa de estrelas cadentes pode ultrapassar as 60 por hora. Podem ser observadas ao longo de todo o plano celeste, mas devido à trajetória da órbita do cometa são observáveis principalmente no hemisfério norte e na direção Norte do céu. Pra esse fenômeno ser visualizado no Brasil, é necessária uma região de pouca poluição luminosa e com poucas obstruções na região norte. Quanto mais ao Norte do Brasil, mais provável de se conseguir visualizar alguma coisa.

Não se trata de uma constelação fácil de se localizar, porque ela não forma um asterismo muito claro, especialmente depois da reconfiguração das constelações feita na era moderna, onde a área de abrangência dessa constelação aumentou. Mas o fato de ela estar próxima das constelações de Áries e Touro ajuda a encontra-la, especialmente tomando Touro como referência, ela estará mais a norte dessa constelação.

Mitologia da Constelação de Perseu

Além do herói Perseu , essa constelação também apresenta uma figura mitológica cuja importância excede a do próprio Perseu, que é a Medusa , marcada pela estrela Algol, de grande importância astrológica. Vamos conhecer a orgiem das duas figuras e depois entender a maneira como elas se encontram, e o legado que cada uma delas teve depois, a luz da mitologia grega.

Perseu

Perseu era filho da mortal Dânae com Zeus , deus dos deuses. O pai de Dânae era o rei da Argólida, o coração da Grécia na era Micênica . Ele reinava a partir da cidade de Argos e mais tarde o próprio Perseu viria a fundar Micenas , mais ou menos a meio caminho entre Argos e Corinto. Esse rei não tinha filhos homens, e ao interrogar um oráculo, descobre que sua filha Dânae teria um filho que viria a mata-lo quando adulto. Diante desse presságio, o rei manda aprisionar a própria filha numa câmara subterrânea feita de bronze.

Zeus já havia notado a beleza de Dânae antes, e estava apaixonado por ela, mas evitava encontra-la a luz do dia porque sua esposa Hera era extremamente ciumenta e o vigiava constantemente. Ao saber que ela havia sido aprisionada pelo seu pai, o Zeus transforma-se numa chuva de ouro , e assim consegue penetrar no cativeiro de Dânae, revelando a ela sua verdadeira forma e finalmente a seduzindo. Dânae termina grávida de Perseu.

Ao descobrir que a filha havia engravidado de Zeus, o rei sem ter coragem de matar a ela ou ao filho que ela esperava com medo de ofender ao deus dos deuses, decide por banir a filha do reino da Argólida, colocando ela e o filho em um cesto de palha e lançando os dois à deriva no mar Egeu. É nesse ponto que o mito de Perseu se assemelha ao do Moisés bíblico.

Os dois terminam chegando as praias da ilha de Sérifos, no meio do mar Egeu, e são salvos por um pescador, Dyctes, que era irmão do rei de Sérifos, Polydectes. Dyctes criou Perseu até a vida adulta, e quando ja estava adulto, o rei Polydectes se apaixonou por Dânae, fato contra o qual Perseu se opôs. Ressentido da atitude de Perseu, polydectes trama um plano maligno , onde ele passa a exigir presentes de seus súditos, sabendo que Perseu seria incapaz de lhe dar o que ele pedia. Perseu então se vê obrigado a se oferecer em serviço ao rei, que lhe pede uma tarefa que ele imaginava que acabaria com a vida de Perseu: Trazer a cabeça da górgona Medusa.

Medusa

De acordo com uma versão antiga , Medusa e suas outras duas irmãs eram conhecidas como Górgonas, e eram filhas de Cetus que aparece em outra constelação. Eram divindades ctônicas, monstruosas e imortais, com exceção da medusa. Tinham o corpo monstruoso, e os cabelos em forma de serpente.

Em outra versão mais recente, ela é uma donzela ateniense que trabalhava no templo da deusa Palas Atena, muito bela e vaidosa, que se orgulhava dos seus lindos cabelos e que se considerava tão ou mais bonita do que a própria Atena. Ela era de fato, muito bonita, ao ponto de ter chamado a atenção do deus dos mares, Posseidon, que a estuprou.

As sacerdotisas do templo de Atena porém, deveriam se manter virgens, e Medusa voltou aos seus afazeres do templo como se nada tivesse acontecido, o que despertou a fúria de Atena. Como punição, Atena transformou seus cabelos em serpentes, e tornou seu rosto tão aterrorizante que quem quer que a visse se transformaria em estátua.

Ela foi banida da civilização e foi viver no deserto do Saara. Inclusive as víboras que infestam essa região do sul da Líbia são atribuídas a Medusa. O covil da Medusa era descrito como um local repleto de estátuas de homens convertidos pela maldição da deusa Atena, onde a entrada de mulheres era proibida para poupa-las.

Perseu e a Medusa

Perseu então tinha a missão de decapitar Medusa e levar sua cabeça como prova. Tarefa impossível, mas Perseu recebeu auxílio da deusa Atena, de Hermes e do próprio Hades, que lhe presentearam com artefatos mágicos : sandálias aladas, um elmo da invisibilidade e um escudo que lhe permitia ele mesmo ver o reflexo da medusa sem precisar olhar diretamente pra ela.

E assim ele o fez. Ao decapitar a Medusa , o sangue dela ao entrar em contato com o chão deu origem ao Cavalo alado Pegasus, que era o filho de Medusa com o próprio Posseidon. Ao tocar o solo após seu nascimento , o chão desértico tornou-se magicamente fértil como se uma suave primavera tivesse substituído a aridez do deserto naquela região, e assim se explicavam os Oásis na mitologia grega. Pegasus depois foi transformado em constelação.

No caminho de volta, Perseu passou pela Etiópia, e soube do monstro que iria destruir o país e da princesa entregue em sacrifício para aplacar a fúria de Posseidon. O monstro era Cetus, pai da Medusa em uma das versões do mito de origem dela , que Perseu derrotou simplesmente mostrando o rosto da medusa para a fera que se transformou em pedra. Assim Perseu salvou a princesa Andrômeda e se casou com ela. Sua prole daria origem depois aos imperadores da Pérsia.

O mito de Perseu continua com seu retorno para Sérifos, onde ele mata Polydectes livrando sua mãe . Posteriormente , ele funda a cidade de Micenas, próximo a Argos , que seria o epicentro da civlização Micênica, que daria origem posteriormente a Grécia clássica.

Seu avô Acrísio que governava Argos, ao descobrir sobre Perseu e seus feitos, se exilou na cidade Larissa, na região da tessália, ao norte de Atenas e Delfos. Um belo dia, jogos esportivos estavam sendo praticados na cidade em celebração de um funeral de uma pessoa importante. Acrísio foi assistir aos jogos, e um dos participantes como competidor era o próprio Perseu, no arremesso de disco. O disco de Perseu terminou atingindo e matando Acrísio , com a profecia se cumprindo.

Anatomia da constelação de Perseu

A constelação de Perseu não é conhecida pelo seu formato, nem por ter estrelas necessariamente brilhantes ou que se destaquem. É uma área do céu que fica entre outras constelações mais definidas, como Cassiopeia e Touro, e é a partir da identificação de uma dessas duas que você tem uma noção de onde olhar para encontrar Perseu.

Outras culturas associavam outras formas humanas a esta constelação: Os egípcios projetavam ali Khem, uma divindade da fertilidade e principio da masculinidade e virilidade. Os persas viam ali Mithra, a suprema divindade do Zoroastrismo, o princípio do bem e de tudo o que é positivo. Os chineses viam ali 4 asterismos diferentes, com o principal formado pela Alfa e Beta Persei sendo a representação de um general , yīng xiān zuò . Outras culturas imaginavam pouco naquela região, com as estrelas de Perseu frequentemente integrando outras constelações ou sendo ignoradas.

Se localiza no hemisfério norte celeste, sendo visível em todo o Brasil. Se estiver no hemisfério norte, procure pelo W formado pela constelação de Cassiopeia. A constelação de Perseu estará um pouco mais ao sul. Como Cassiopeia não é fácil de encontrar no Brasil, se estiver aqui procure pelo Y da constelação de Touro , Perseu estará mais ao norte, mais ou menos na mesma reta que o eixo desse Y. Isso significa que geralmente Perseu estará próxima ao solo, na direção norte. A melhor época pra observar é nos meses que vão de Setembro a janeiro. Veja abaixo as principais estrelas de Perseu:

Capulus 24°29′ de Touro
Algol beta (β)26°27′ de Touro
Misan kappa (κ)27°59′ de Touro
Miran Eta (η)28°59′ de Touro
Atiks Omicron (ο)01°26′ de Gêmeos
Mirfak Alpha (α)02°22′ de Gêmeos
Menkib Xi (ξ)05°15′ de Gêmeos

Capulus é um aglomerado estelar que se localiza no punho que segura a espada de Perseu, formado por mais de 60 estrelas , que pode ser melhor observado com um telescópio.

Algol , ou Caput Algol, a beta (β) Persei, é um sistema composto por 3 estrelas, que se localiza na cabeça da Medusa. Na antiguidade esse não era um fato conhecido, mas coincidentemente, a Medusa era uma das Górgonas, um grupo de 3 irmãs. Duas dessas estrelas são mais brilhantes , com uma sendo mais turva, e quando essa mais turva eclipsa uma das outras duas, isso produz um efeito de variação no brilho dessa estrela. Hiparco na antiguidade colocava Algol em uma constelação diferente, Caput Medusae, a cabeça da Medusa, mas a maioria dos autores sempre a consideraram como parte da Constelação de Perseu.

Em diversas culturas, a reputação dessa estrela era negativa . Mesmo na longínqua China, essa estrela era chamada de Cadáver, Tseih She. Na astrologia ocidental tradicional é considerada a mais maléfica dentre as estrelas. Seu nome vem do árabe Ra’s al Ghul, o demônio.

Misan, Kappa (κ) persei, é uma estrela que se localiza no braço esquerdo de Perseu, o que segura a cabeça da Medusa.

Miran, Eta (η) persei, é uma estrela que se localiza no braço direito de Perseu, o que segura a espada.

Atiks, Omicron (ο) persei, é uma estrela que se localiza na sandália esquerda de Perseu, uma sandália mágica que lhe permitia voar, dada por Hermes.

Mirfak, Alpha (α) persei, é a estrela mais brilhante de Perseu, ainda que não seja a mais importante astrologicamente , nem se comparando com Algol nesse quesito. Simboliza a costela direita de Perseu na lateral de seu abdomen. Tem vários nomes alternativos, o principal deles sendo Algenib.

Menkib, Xi (ξ) persei, se localiza na panturrilha esquerda de Perseu.

Significado Astrológico da Constelação de Perseu

Perseu como um todo é uma constelação percebida como poderosa, mas pouco benéfica. Representa pessoas egoístas e sem escrúpulos ao perseguir seus objetivos, inclinadas a mentira. Entretanto, somente uma estrela em Perseu realmente se destaca: Algol. Todas as outras são eclipsadas pelo mito da Medusa , e Perseu termina seus dias não passando de um coadjuvante, onde ela, a terrível Górgona, reina soberana, mesmo morta.

É interessante lembrar que Perseu da a cabeça da Medusa para a deusa Atena, que a coloca em seu escudo, o Aégis. E que Atena é representada como deusa da sabedoria, especialmente em função do seu papel na cidade de Atenas, onde era a padroeira, mas que no mundo grego ela era adorada como uma Deusa da Guerra. E nesse sentido, ela era uma figura terrível e Impiedosa. Para os Romanos , ela assumiu um aspecto de frieza e distanciamento na forma de Minerva, como deusa a presidir o direito romano, simbolizando a justiça. Atena usava a medusa como um amuleto para aterrorizar seus inimigos na guerra. Não a toa, os gregos confeccionavam amuletos com cabeças de medusa, para protege-los do mal.

A medusa é essa entidade terrível, monstruosa, e ao mesmo tempo infinitamente poderosa. E de certa forma ela e Atena são intimamente conectadas. Dessa forma fica mais fácil entender a natureza de Algol, se lembrarmos que a deusa Atena também está por trás dela.

Na astrologia Clássica, a reputação dessa estrela é maléfica, sendo associada a autoridade, tirania e abuso de poder. Também costuma ser lincada a mortes violentas , por decapitação ou enforcamento, ou outras formas de pena capital.

De certa forma ela simboliza o feminino sob a ótica do masculino amedrontado pela beleza e pela atração que o feminino exerce, apesar de sua fragilidade. E por esse motivo simboliza o ódio ao feminino que vemos expresso no estupro seguido da culpabilização da vítima do estupro, que além de estuprada, é desfigurada e banida. Essa estrela é antes de tudo um símbolo da opressão ao feminino, e de todas as formas de injustiça , todas as formas de abuso, que aqueles investidos de poder exercem contra os mais frágeis.

Quando Algol aparece no ascendente ou ligada a algum planeta por conjunção, a pessoa pode ter rompantes de comportamentos abusivos e tirânicos. Tende a uma postura dominante em todas as esferas da vida. Independente do gênero, sejam homens ou mulheres, vão assumir a impiedosa postura da deusa da guerra, e esmagarão aqueles que julgam seus inimigos. Por conta disso, aliás, essa estrela leva a pessoa a criar muitos inimigos. É particularmente violenta e destrutiva a conjunção de Marte com essa estrela. Se aparece no MC, a pessoa pode ter de conviver com patrões tiranos por exemplo. Se aparece no fundo do céu, essa tirania pode ser vivenciada a partir dos pais, e se aparece na cúspide da casa 7, através de inimigos declarados.