A constelação de Órion

A constelação de Órion é uma das mais belas e fáceis de se localizar no céu, e é uma das mais tradicionais e também cultuadas ao longo da história. É composto por um trapézio formado por 4 estrelas: Betelgeuse (Alfa), Rigel(Beta), Bellatrix (Gamma) e Saiph (Kappa). No centro deste trapézio se encontra o famoso cinturão de Órion, um asterismo em forma de linha conhecido também como as três Marias: Mintaka, Alnilam e Alnitak. Ainda na região desta constelação encontramos uma das poucas nebulosas que são visíveis a olho nu, a Nebulosa de Órion.

A importância dessa constelação para navegação, especialmente nos meses que vão de setembro a março, quando ela é mais visível no céu, foi incalculável. Isso porque é uma constelação próxima do equador celeste, e por isso é visível em quase todo o globo terrestre, com exceção de ambos os polos. Pode ser vista da latitude 85° norte até 75° sul. Essa proximidade em relação aos polos a torna uma constelação de referência, porque mesmo em noites iluminadas (com lua) ou com visibilidade parcial, seu asterismo característico ainda pode facilmente ser identificado. A primeira estrela do cinturão de Orion , Mintaka, é conhecida por marcar a posição exata do leste e do oeste nos pontos onde ela nasce no horizonte, com 1 grau de precisão.

Os Mitos da Constelação de Órion

Órion teve importância em todas as culturas que desenvolveram algum nível de astronomia, devido ao seu asterismo tão definido e ao fato de suas estrelas serem tão brilhantes.

Egito

Os antigos egípcios associavam esta constelação com o deus Osíris, que era uma das divindades mais cultuada por aquele povo, muito associado com a simbologia básica do eixo Touro-Escorpião: Ele presidia a vida, a força vital presente na terra que dá vida as plantas e era também o grande juiz que ficava na sala das duas verdades decidindo quem merecia ir para o paraíso gozar da prosperidade eterna.

Existe ainda uma teoria , sem comprovação, de que a construção das pirâmides de Gizé foi posicionada geograficamente de forma a espelhar o cinturão de Órion, com o tamanho de cada pirâmide equivalendo a magnitude de brilho das estrelas desse asterismo, conhecido no Brasil também como “as três Marias”.

O fato é que o cinturão de Órion personificava uma das principais divindades para os Egípcios, o próprio Osíris, com a estrela Sirius representando sua esposa Íris. Sirius é a estrela alfa do cão maior.

Grécia

Já os gregos associavam essa constelação a vários diferentes mitos ou versões de um mesmo mito diferentes. Órion foi venerado como herói especialmente na Região da Beócia, nos arredores das cidades de Tebas e Platéia. Ele tinha a mesma importância para essa região que os Dióscorus tinham para Esparta, ou que Perseu e Agamenon tinham na Argólida, sendo idolatrados como herói, com festivais sendo celebrados em sua homenagem. Hesíodo atribui sua filiação ao deus dos mares e das águas, Posseidon, e a uma das filhas do rei mítico Minos de Creta. Por conta disso, Órion era capaz de caminhar sobre as águas. Essa atribuição provavelmente se relaciona a posição de Órion quando ele nasce no leste, observado a partir do hemisfério norte: é como se estivesse caminhando pelo mar.

Histórias sobre os seus feitos heroicos eram múltiplas, sendo contados principalmente pelas tradições orais e poetas da Beócia. Vamos nos focar aqui nos mitos que explicam sua origem como constelação, que é o que nos importa aqui, e mesmo quando nos concentramos somente nisso, percebemos que as versões de sua história são múltiplas.

Numa delas, Órion é retratado como um gigante e um vilão, que estava levando os animais de uma determinada região a extinção. Gaia então enviou um escorpião gigante que emergiu das profundezas da terra para picar o caçador e pôr um fim a matança que ele estava promovendo. Ártemis , a deusa da caça , admirava Órion e se apaixonou por ele, e quando percebeu o Escorpião que o perseguia , tentou ela mesma dar um fim a criatura , mas acabou errando o seu disparo e atingindo Órion por engano. Em prantos ela leva seu corpo moribundo até Zeus, que o transforma em constelação.

Em outra versão, Órion é um herói e caçador habilidoso que na realidade está livrando uma região de feras terríveis. Ele se apaixona por Ártemis e o sentimento da deusa por ele é recíproco, o que desperta o ciume do deus Apolo, que era irmão gêmeos de Ártemis. Para proteger a virgindade de sua irmã, ele envia o Escorpião gigante que passa a persegui-lo. Ártemis termina por atingir o seu amado sem querer com uma de suas flechar mortais, dirigida para o Escorpião, e nesse caso, ela mesma o transforma em Constelação, com Apolo transformando o Escorpião em outra constelação, localizada em oposição a localização de Órion. Dessa forma, quando Órion está nascendo, o Escorpião está se ponto e vice-versa. Os cães de caça de Órion foram colocados pela deusa Ártemis ao seu lado para lhe fazer companhia, na forma das constelações de Cão maior e Cão Menor. Existem versões que dizem que na verdade Apolo mata Órion não somente pelos ciumes em relação a irmã, mas devido a beleza extraordinária dele. Órion é relatado como o homem mais bonito que ja existiu por fontes Beócias.

Em outra versão completamente diferente, Órion se apaixona por Ártemis e tenta violentar ela enquanto ela se banhava nua com as ninfas em um lago. Como punição, a deusa invoca um Escorpião gigante para persegui-lo eternamente, e transforma ele e o Escorpião em constelações.

Existe ainda uma intersecção entre o mito de Órion e o mito das Plêiades (aglomerado localizado na constelação vizinha, de Touro) contada na Beócia. Nesse mito, Órion se Apaixona por Pleione, a mãe das plêiades, e passa a persegui-la durante 7 anos. Num dado momento , Zeus decide interferir e transforma tanto Órion quanto as Plêiades em constelações, e até hoje Órion pode ser visto perseguindo as Plêiades. Outra versão diz que, como as Plêiades faziam parte do culto de Ártemis, a própria deusa teria enviado o Escorpião, que nesse caso o picaria no calcanhar, com Órion sendo colocado no céu junto do Escorpião como punição.

Brasil

Os índios tupi-guaranis viam as constelações de Touro e Órion como uma só , e chamavam ela de Homem-Velho (Tuya’i). Era um homem velho, que tinha uma perna só , tendo a outra cortada. As Plêiades eram vistas como um cocar de penas em sua cabeça, e Beteugeuse marcava o local onde sua perna havia sido amputada. Na mão direita ele é representado segurando uma bengala.

A história da constelação é uma tragédia tupi-guarani. Esse homem velho, quando ainda tinha suas duas pernas intactas, decidiu um dia se casar com uma índia que era mais jovem que ele. Mas ele tinha um irmão mais jovem e bonito, e sua esposa se apaixonou pelo irmão. Para ficar com o irmão do homem velho, a india cortou sua perna fora com a intenção de mata-lo. Antes de morrer porém, ele foi transformado em constelações pelos deuses que ficaram comovidos com sua história.

Essa constelação era um sinal positivo no céu, porque marcava o verão, estação de calor e chuvas.

China

Na astronomia Chinesa, a região ocupada por Órion abarcava diversos asterismos que incluíam alguma estrela de Órion ou outras dentro de sua Área. Afinal os Chineses tinham 6 vezes mais constelações do que os gregos antigos!

Os principais asterismos que incluem Órion eram o Estandarte das 3 estrelas, que inicialmente incluía apenas o cinturão de órion, mas que depois passou a incluir outras, e o bico da Tartaruga, sendo este um dos asterismos principais de todo o quadrante do Tigre Branco , marcando o inverno para os Chineses.

Povos Mesoamericanos

Os astecas viam nas constelações do cinturão de Órion uma broca de fogo que era associada a uma das divindades do fogo asteca, Xiuhtecuhtli, que testemunhou o nascimento do próprio sol. A cerimônia do fogo novo era um ritual celebrado a cada 52 anos pelos astecas quando fechava um ciclo do calendário e se iniciava um outro, e era marcada por esta constelação.

Para evitar o apocalipse nesse momento de transição de calendário, os astecas realizavam um ritual onde todo o fogo de suas cidades era apagado , e um homem era levado até o topo de uma montanha para ser sacrificado. No momento em que o cinturão de Órion ascendia no horizonte , uma broca perfurava o peito da vítima, seu coração era removido e usado para ascender uma chama, que depois partia em procissão e era utilizada para ascender outras chamas ao redor das cidades e vilarejos.

Era portanto um ritual de purificação do próprio fogo , e a constelação de Órion era vista como esse instrumento ritual e era associada com o próprio festival em si. Esse ritual não se trata de uma exclusividade asteca, tendo sido praticado por culturas da califórnia, América central e cordilheira dos andes também, com algumas modificações.

Anatomia da constelação de Orion

Orion é composto por um asterismo central de 3 estrelas em linha que formam seu cinturão e mais outras estrelas que formam os braços e pernas da figura. Sua localização é muito fácil, e o mês em que Orion passa mais tempo visível no céu é o mês de dezembro, quando Órion culmina à meia-noite. Tudo o que você tem que fazer é procurar pelas três marias, e saber quando olhar.

Em Outubro, Órion nasce por volta de 21-22:00 aqui no Brasil, já sendo plenamente observável durante a madrugada. A partir de fevereiro, Órion já se encontra alta no céu logo após o por do sol. A partir do outono ela começa a permanecer visível por cada vez menos tempo , até o ponto em que ela fica totalmente invisível , geralmente em junho, reaparecendo a partir de julho quando começa a nascer no fim da madrugada antes do amanhecer.

Abaixo temos a lista com as estrelas de Órion que são nomeadas. Note que a constelação inclui um número bem maior de estrelas, mas que não são tão brilhantes quanto aquelas do asterismo principal.

Tabit Pi3 (π3)12°13′ de Gêmeos
Rigel Beta (β)17°07′ de Gêmeos
Bellatrix Gamma (γ)21°14′ de Gêmeos
Mintaka Delta (δ)22°41′ de Gêmeos
Hatsya Iota (ι) 23°17′ de Gêmeos
Ensis M4223°16′ de Gêmeos
Alnilan Epsilon (ε)23°45′ de Gêmeos
Meissa Lambda (λ)24°00′ de Gêmeos
Alnitak Zeta (ζ)24°58′ de Gêmeos
Saiph Kappa (κ)26°41′ de Gêmeos
Betelgeuse Alpha (α)29°02′ de Gêmeos
A posição das estrelas é dada para 01/01/2021. Tenha em mente que as estrelas se movem numa média de 1° a cada 70 anos.

Tabit, Pi3 (π3) Orionis, é a estrela localizada mais a norte nessa constelação. Ela integra um grupo de outras estrelas não nomeadas na região da Constelação onde aparece uma pele de leão, e significa suportar, aguentar firme (uma provação ou dificuldade). Os persas nomeavam coletivamente a esse agrupamento, o chamando de al taj, “a coroa”.

Rigel, Beta (β) Orionis, é uma estrela dupla, beta da constelação, localizada no pé direito de Órion. Ao mesmo tempo que os pés de Órion lhe concediam o poder de caminhar pelas águas, foi também ali onde ele foi picado pelo escorpião enviado seja por gaia, Ártemis ou Apolo. A palavra Rigel vem do Árabe Rijl Jauzah al Yusra, significando literalmente pé ou perna esquerda de Órion. Jauzah é o termo árabe usado pra nomear a constelação de Órion. É na verdade a estrela mais brilhante da constelação, e a sétima estrela mais brilhante dentre todas.

Bellatrix, Gamma (γ) Orionis, é uma estrela amarelada localizada no ombro esquerdo de Órion. A palavra significa “guerreira”. Em Árabe recebe o nome de Al najid , o conquistador. Marca o braço de Órion que carrega uma pele de leão, que pode ser lida como um troféu e símbolo de suas vitórias como caçador. É também chamada de estrela amazona.

Mintaka, Delta (δ) Orionis, é a estrela que se localiza mais a oeste no cinturão de Órion. O nome vem do árabe, Al Mintakah, e significa o cinto, nome que as vezes era atribuído a todo o conjunto. Do cinturão, é sempre a primeira a nascer no horizonte leste, e teve importância gigantesca para a navegação, devido a sua posição , a menos de 23′ de arco do equador celeste atualmente, marcando um ponto de referência muito importante para localização especialmente durante a época das grandes navegações.

Hatsya, Iota (ι) Orionis, é uma estrela localizada na espada embainhada na cintura de Órion, a mais brilhante daquela região. Em árabe, seu nome é Na’ir al Saif, significando literalmente “a brilhante na espada”.

Ensis é uma nebulosa localizada na bainha da espada de Órion. Seu nome astronômico é M42, e é conhecida como a grande nebulosa de Órion.

Alnilan, Epsilon (ε) Orionis, é a estrela central do cinturão de Órion. O nome deriva do árabe Al Nathan, que significa linha de pérolas , nome que também era usado coletivamente para as demais estrelas do cinturão.

Meissa, Lambda (λ) Orionis, é uma estrela dupla localizada na cabeça de Órion. Ela aparece formando um pequeno triângulo com outras duas estrelas presentes na região que não são nomeadas. O nome árabe era Ras al Jauzah, literalmente a cabeça de Órion.

Alnitak, Zeta (ζ) Orionis, É a estrela que fica mais a leste no cinturão de Órion, sendo a última a ascender do cinturão no horizonte leste. É uma estrela tripla, e é a mais brilhante do cinturão também , sendo a quarta mais brilhante da constelação. O nome vem do árabe Al nitak, a cintura.

Saiph, Kappa (κ) Orionis, é uma estrela localizada na perna direita de Orion. O nome vem do árabe Saif al Jabbar, significando “a espada do gigante”.

Betelgeuse, Alpha (α) Orionis, é uma super gigante laranja-avermelhada, 890 vezes maior que o nosso sol. Ela costumava ser ainda mais brilhante a algumas dezenas de anos atrás, mas vem perdendo progressivamente seu brilho nos últimos tempos, com alguns cientistas afirmando que ela talvez esteja a ponto de explodir e se transformar em uma Super Nova, coisa que pode acontecer a qualquer momento. Agora ela é a segunda estrela mais brilhante em Órion, depois de Rigel, mas ainda é a nona estrela mais brilhante dentre todas. O Nome é uma corruptela do original em árabe, Ib ţ al Jauzah , a axila de Órion.

Significado astrológico de Órion

Assim o significado básico de Órion é o de um grande guerreiro/caçador. O sentido bélico também se observa no significado que se atribui a suas principais estrelas, que geralmente concedem liderança e honrarias militares. Órion está próximo das constelações de Touro e Gêmeos, na região do equador celeste, sendo visível tanto no hemisfério sul quanto no hemisfério norte. Na época dos gregos e dos romanos, metade da constelação de Órion ficava posicionada na região paralela a passagem do Sol pelo signo de Touro, e a outra metade era paralela ao signo de Gêmeos, numa região de aproximadamente 20° de longitude zodiacal. Atualmente Orion fica entre o segundo e o terceiro decanato do signo de Gêmeos (10° a 29° de Gêmeos); Veja a localização zodiacal de suas principais estrelas:

Rigel, apesar de ser a Beta da constelação de Orion é a estrela mais brilhante da constelação e se localiza atualmente aos 17° de Gêmeos. Rigel é a sétima estrela mais brilhante em todo o céu visível a partir da terra. Fica localizada no pé esquerdo de Órion e significa rapidez, agilidade, esperteza, sorte e boa fortuna. Órion era capaz de caminhar sobre as águas, então essa é a parte mais “mágica” da constelação. É indicadora de criatividade, dons musicais e artísticos de modo geral. A peculiar característica de Rigel ter um brilho bastante variável, as vezes brilhando menos do que Betelgeuse, as vezes brilhando muito mais do que esta, pode sugerir um elemento forte de “altos e baixos” na vida dos nativos que são afetados por ela.

Bellatrix é conhecida também como a dama guerreira ou a estrela amazona. A própria palavra Bellatrix, que vêm do latim, significa literalmente guerreira. Aqui ela pode muito bem personificar o espírito audacioso de Ártemis , que era a deusa portadora do Arco e Flecha. Ártemis é conhecida pela sua independência e era a deusa maior das Amazonas e uma deusa maior em Esparta, cidade estado grega famosa pelo nível de emancipação e influência política de suas mulheres na antiguidade. Fica localizada aos 21° de Gêmeos e fica no braço esquerda de Órion, o que aparece segurando um pelego de leão. Significa honrarias militares, popularidade e um pouco de sorte. No mapa de mulheres sugere atrevimento, audácia, coragem, a personificação da “mulher guerreira”.

O cinturão de Órion, formado por Mintaka(22° de gêmeos), Alnilam(23° de Gêmeos) e Alnitak (24° de gêmeos) indica indivíduos audaciosos , de espírito independente e rebelde, que não se guiam nem por religião e nem pela palavra dos pais, mas pelo que manda seu coração . Por conta disso, tendem a conquistar coisas além do que seria esperado para eles, mas ao mesmo tempo se expõem a riscos e criam inimigos devido a sua insubmissão.

Saiph fica na perna direita de Órion , aos 26° de Gêmeos , e não tem significado especial além do geral da constelação que é a autoconfiança e o espírito audacioso.

Betelgeuse era tida como a estrela mais brilhante de Orion (sendo considerada até hoje como a alfa desta constelação) mas foi desbancada por Rigel porque passou a perder brilho nos últimos tempos. Fica localizada aos 29° de Gêmeos, na região do ombro direito de Órion, do braço que segura uma espada. No século XX porém, ela ficava em 28° de Gêmeos. Significa agressividade, coragem, força, honrarias e vitórias militares, sucesso e amizade com pessoas poderosas, além de criatividade e dons artísticos. Era também associada a explosões, incêndios e mortes causadas por raios, tendo portanto um simbolismo bem uraniano se pensarmos num contexto moderno.

Um comentário

  1. sou fascinada por essa constelação. Bom saber dos mitos e da influência de suas estrelas na vida de pessoas que conhecemos, tks !

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