Câncer

A reação a gêmeos é uma decisão tomada contra a dispersão e a superficialidade. Câncer decide fincar raízes em algum local, delimitar um território e investir no seu próprio desenvolvimento e no desenvolvimento dos seus. É o signo ligado a maternidade, aos inícios e aos fins, ao passado como modelo único e exclusivo para a construção do presente. Assim câncer é um signo cheio de fantasmas, porque é neste estágio onde ocorre um resgate sobre como as coisas eram feitas antigamente. Assim é o pensamento canceriano: “melhor isso do que continuar eternamente na experimentação irresponsável e sem resultados de gêmeos”.

Mas o resgate canceriano é apenas estrutural, muito mais associável a uma tradição, um método de fazer as coisas, do que a uma repetição exata de uma determinada forma de desenvolver. Câncer está muito preocupado em manter viva a idéia precípua oriunda do estágio ariano, e para garantir isso e para não correr riscos, neste estágio prefere-se repetir a estratégia dos antigos, tendo em vista os resultados obtidos no passado. A nutrição é uma das principais características de câncer e este é o estágio de absorção de recursos, de “engorda”, uma preparação para o parto eminente que acontece em Leão, quando a singela idéia trazida desde Áries finalmente ganha corpo, passa a existir e a se tornar a nova realidade.

Todos os signos de água parecem ter alguma ligação com a morte, com o orgânico e com o emocional. Câncer pode ser simbolizado como um útero, mas também pode ser representado como uma catacumba: Nossa primeira, e nossa ultima morada, aliás, o conceito de lar é o que melhor define câncer.

Um desejo surgiu em Peixes, o signo de água que antecede câncer. Peixes representa a fluidez, aquela coisa de se deixar levar pela correnteza da vida e permitir que tudo se assente por si mesmo. Em peixes o maior desejo é que tudo termine de uma vez (neste caso, o desejo pisciano é que o ciclo anterior acabe de uma vez por todas) e é somente em câncer que peixes vivenciará este “descanso final”. Digamos que em câncer o novo ciclo ainda não tenha se estabelecido, porque o novo ainda está sendo gerado, acalentado. Mas é justamente isso que colocará um ponto final no passado, quando as coisas deixarem de ser câncer e passarem a ser Leão. Câncer, na realidade, demarca o momento em que as coisas realmente irão terminar, é a morte definitiva do ciclo anterior, ainda que câncer já esteja inserido no novo ciclo, como o pilar principal do estágio de desenvolvimento deste ciclo. Do ponto de vista taurino, câncer é um alívio porque as coisas voltaram a se assentar, a passividade volta a reinar e uma estruturação mais efetiva acontece. Acúmulo é uma idéia original de touro, mas manifesta de maneira prática e eficiente em câncer. Touro é o que acumula simplesmente para ter, para engrossar o seu caldo, enquanto que câncer age instintivamente em nome da sobrevivência e do desenvolvimento.

Um problema surge em Câncer, a passividade extrema, a insegurança, o retorno do medo taurino de se sair do lugar. Pra garantir a sua sobrevivência e em nome da sobrevivência do filho (que é o Áries sendo transmutado em leão no interior do útero canceriano) câncer sufoca, aprisiona, gera uma dependência doentia, reprime: A superproteção alegada em nome do filho, mas que no fundo é muito mais o medo de perder esse filho. Assim surgirá o Leão: uma reação a passividade e a insegurança do passado e o conseqüente destronamento da mãe.