O Ciclo vicioso do poder (visto na sucessão dos signos cardinais)

Todos acusam Áries de representar a tirania, e as pessoas tem toda razão, é isso mesmo. Porque simbolicamente  Áries é o poder concentrado em um indivíduo, perseguido e conquistado por esse indivíduo pelo uso da força, e mantido com o uso da força. Áries é esse impulso de surgir, ir pra vida, conquistar. Ele pode surgir  do nada e do nada construir um império. Ele pode nascer em berço de ouro , renegar esse berço e fazer um império pra si mesmo, do nada. Ele pode surgir como reação a um outro poder estabelecido, que vai precisar ser destruído para que Áries possa vir a ser aquilo que ele pretende. Então Áries é o poder conquistado numa batalha. É um reino, um império que antes não existia e é criado, seja a partir do nada, seja em cima dos escombros de um império que foi derrubado. Mas ele é essa coisa nova. O que acontece com esse poder quando o conquistador morre? Bom, acho que a solução mais óbvia é a hereditariedade. Na história era assim que funcionava. Enquanto o império existe, ele costuma ser controlado pelos herdeiros do último imperador. Assim surge a ideia de dinastia, e assim chegamos a ideia do signo de Câncer.

Câncer é esse poder que emana do sangue , que não é conquistado mas é inerente. É a autoridade que emana de pai e mãe, e que emana da nossa capacidade de também nos tornarmos pais e mães. Simbolicamente, é um poder quase divino. Nascemos de indivíduos que se dizem a emanação do poder, não temos parâmetros para contra-argumentar, apenas nos submetemos. Câncer é o poder monárquico da dinastia e estava muito presente no mundo medieval, sobretudo na Europa feudal. Mesmo nas monarquias absolutistas, o rei só é legítimo por ter sangue de reis, por fazer parte da família real. E é apenas essa argumentação mítico-biológica que sustenta o poder nessa esfera canceriana.

É um poder que se pretende perpetuar, e que gera grandes injustiças, porque nem sempre o herdeiro do Rei atual vai ser um rei confiável e justo. E uma coletividade subjugada por criaturas mimadas e egocêntricas, cujo poder emana de uma ideia quase mítica, não tolera isso por muito tempo. Daí surge o signo de Libra e a ideia de democracia.

A maioria  descontente derruba o rei e elege um representante dessa coletividade pra governar durante um espaço de tempo, através de métodos teoricamente imparciais. Poder econômico e justiça passam a pairar em nível de equidade com a autoridade representativa, não estão mais a serviço do monarca. Seria perfeito se esse sistema não fosse tão vulnerável. Se o povo, que escolhe o representante, não fosse tão manipulável. Se os representantes, demasiadamente humanos, não fossem tão facilmente corruptíveis.

A corrupção exibe o que é o poder verdadeiramente, desde sempre, desde antes, o poder ancestral. Não é a força , não é o sangue e não é voto. Em diferentes épocas pode ser o dinheiro, o ouro, os cereais, a caça … Poder é isso que nos mantem vivos. Ele é aquilo que organicamente precisamos, queremos, desejamos. Poder é o que tem capacidade de nos manter vivos e por isso é aquilo do qual precisamos: Comida, água, ar, coisas que podem ser negociadas e transformadas em terras, ouro, dinheiro, crédito, ações. Poder pode ser também aquilo que nos motiva a estar vivos: amor, conquistas pessoais, prazer, conhecimento etc.  Quem tem mais do que precisa e do que deseja, tem mais poder. Tem mais vida. Existe mais e existe melhor. E todos querem esse poder, não porque todos são gananciosos, mas porque todos querem estar vivos. No fundo somos todos como árvores, nosso grande objetivo é sugar o máximo possível de recursos pra deixar de ser ramalhetes e crescer de forma frondosa. Quem tem mais poder é quem tem mais recursos, quem acumula mais recursos. Quanto mais recursos alguém acumula, a menos poder outros indivíduos vão ter acesso livremente. Esses indivíduos portanto estarão vulneráveis a coisas como a corrupção, o crime e a escravidão.  

Capricórnio simboliza esse poder numérico, é a organização hierárquica de quem tem mais poder, absolutamente injusta e vertical, absolutamente incontrolável, mas totalmente auto-responsiva, especialmente quando as coisas são postas anteriormente nos parâmetros librianos, tão vulneráveis a corrupção. Porque libra faz com que o poder deixe de se concentrar num indivíduo, ou na família dele. O poder é de todos. Isso facilita a organização no esquema que depois se transforma claramente nisso que é simbolizado pelo signo de Capricórnio. A hierarquia com base em números. Estéril, injusta e perpétua.

Quando as coisas chegam nesse nível, aparentemente elas não tem mais alternativa, correto? Na verdade elas tem. Aí é que entra a ideia de apocalipse. A destruição que desfaz, que desorganiza, que traz o caos; Esse é o destino de Capricórnio: logo depois dele vem os signos de Aquário (o desabamento das estruturas hierárquicas) e Peixes,  o próprio caos.

E aí temos terreno livre pra que Áries ressurja, pra que tudo comece de novo, do zero. Nessa lógica pós capricorniana, Áries é uma força libertadora na verdade, que traz luz e direcionamento num mundo caótico. Passamos a ver Áries como a autoridade tirana que se garante através da força somente depois;