Não espere por uma listinha falando sobre Ceres nos signos, não é disso que eu quero falar aqui. Eu na verdade tenho olhado Ceres em alguns mapas, mas os textos que eu tenho encontrado sobre Ceres são , digamos assim, simplórios pra dizer o mínimo sem ofender seus bem-intencionados autores. A questão é que eu não posso concordar com essa história de que “Ceres é a nossa forma pessoal de nutrir” seja la o quê, simplesmente porque essa atribuição já pertence a lua, que responde muito bem por ela. O mito de Ceres é muito vasto, não se resume somente a essa questão da “nutrição”. Passa por exemplo pela questão das estações do ano, do rancor, do aspecto mesquinho e miserável de uma deusa que não teve piedade de ninguém ao instaurar o inverno quando lhe tiraram uma coisa da qual ela gostava, mas que não lhe pertencia (sua filha); Esses autores costumam ignorar também os elementos astronômicos sobre Ceres, os períodos dela, afélio, periélio, etc. Eu acho que é muito precipitado definir Ceres sem nenhum tipo de observação séria. Fugir do excessivo uso das analogias com mitologia é essencial. Se for pra encontrar um significado tem que se observar de que forma o planeta vai se inserindo no cotidiano como nova qualidade de tempo e não como um processo psicológico meramente humano. Este é o problema mais sério em toda a astrologia moderna: a busca de entendimento sobre processos psicológicos, antes de se encontrar uma definição em termos de qualidade de tempo. Os astrólogos modernos simplesmente ignoram que a psicologia não é um assunto da alçada da astrologia!
Ceres , pra quem não sabe é um asteroide, um dos mais de 4000 corpos que fazem parte do cinturão de asteroides, localizados entre Marte e Júpiter. Só que Ceres se destaca por ser o maior desses asteroides, por conter 1 terço da massa do cinturão de asteroides, e por ser arredondado como um planeta; Em determinadas condições, ceres é inclusive passível de observação a olho nu como um ponto pálido e diminuto, observável (a olho nu) somente ao passar pelas constelações de leão ou virgem quando em oposição com o sol.
Foi descoberta em 1801 enquanto passava pelo signo de Touro. Foi encarada como um Planeta até meados do século XIX, época da descoberta de Netuno, quando também se descobriram diversos outros corpos menores que Ceres na região que ficou conhecida a partir de então como “cinturão de asteroides”; Não tem sido exatamente ponto pacífico a questão de Ceres ser considerada asteroide, com alguns outros cientistas tendo postulado a reconsideração na classificação de Ceres já na época da descoberta de Plutão, que tem dimensões parecidas com as de Ceres em alguns pontos, mas a descoberta de uma série de outros corpos celestes foi mantendo essa questão “na gaveta”, isso até a descoberta de Éris em 2005. Chegou a ser chamada de Deméter por gregos e Hera por astrônomos alemães, mas a questão da nomenclatura ja no século XX era ponto pacífico e é até hoje “Ceres”, a deusa romana da agricultura.
A descoberta de Éris criou uma nova categoria intermediária entre o Planeta e o Asteroide, a de planeta-anão e é nessa categoria que atualmente encontramos Ceres e Plutão, bem como Éris, de acordo com as prerrogativas astronômicas.
Ceres tem um período orbital de aproximadamente 4 anos e 7 meses. Podemos dizer que possui um ciclo maior que dura 23 anos (5 revoluções completas), quando então encontramos Ceres quase exatamente no mesmo ponto do zodíaco em paralelo com a posição do sol (em outras palavras: quando vivemos uma revolução solar que coincide com um retorno de Ceres, com uma diferença de -2° aproximadamente). na minha opinião, esse deveria ser o ponto de partida pro estudo de Ceres. Será que existe algo em comum a todas as pessoas que costuma ocorra na época do 23° aniversário? Se houver, Podemos tirar daí pistas sobre possíveis significados de Ceres.
Outra questão importante se refere ao afélio e periélio de Ceres. O Afélio, ponto de maior distanciamento em relação ao sol, se encontra no signo de Peixes (aproximadamente 2°, oscilando aparentemente entre aquário e peixes quando visto geocentricamente, mas sempre caindo nessa região dos 2° de Peixes quando observado do ponto de vista heliocêntrico). Significa que Ceres é mais lenta no signo de Peixes e suas adjacências (Capricórnio, aquário, peixes, áries e touro); Já o periélio é o momento em que Ceres se encontra mais próxima do sol e por esse motivo é também mais rápida e isso ocorre por volta dos 02° de Virgem, sendo os signos que vão de Câncer a Escorpião relativamente mais rápidos no trânsito de Ceres.
Existe uma sub-crença mística de que o cinturão de asteroides seriam os restos de um antigo planeta que teria explodido em algum momento da história do sistema Solar, mas atualmente evidências levam os astrônomos a acreditar no Oposto: O cinturão seria na verdade um amontoado de matéria dispersa que estaria se concentrando pra formar um planeta. Aparentemente esse processo foi interrompido por interferência da órbita de Júpiter, que não teve força o suficiente pra capturar todos os objetos para seu sistema de satélites, mas teve força o suficiente pra impedir a formação de tal planeta.
Alguns astrólogos modernos desejam atribuir a Ceres a regência sobre o signo de Virgem. Sem me delongar muito sobre a questão referente ao quanto é desnecessária essa coisa de se querer encontrar o “novo regente”, já que essa é uma falsa necessidade, ainda assim, não precisamos ver como absurda uma associação entre Ceres e o signo de Virgem. O periélio de Plutão também fica precisamente na região do zodíaco em que se deseja atribuir sua “nova regência”, em Escorpião. O mesmo ocorrendo com Éris, cujo periélio é Libra. Por conta dessa associação , muito do que se entende de Ceres vem tão somente dessa associação com o signo de Virgem e também de alguns elementos relacionados a mitologia de Ceres;
Não me sinto necessariamente confiante em relação ao foco em uma associação puramente mitológica para algo tão estrutural na astrologia como a definição do significado de um Planeta. É simplesmente ridículo partir somente deste ponto. O fato de isso ser ponto pacifico em relação aos planetas do septanário não significa que devemos buscar a mesma coisa para planetas recém descobertos, especialmente porque o mundo não gira mais em torno do olimpo como costumava fazer na época em que recebemos as principais definições em relação ao sentido dos planetas do septanário na forma como as conhecemos hoje, incluindo seus nomes. É necessário lembrar que em outras culturas que ignoravam sumariamente a mitologia grega o sentido dos planetas do septanário era muito parecido com aquilo que foi absorvido posteriormente por gregos e romanos.
O principal argumento pra isso é que no Caso de Urano e Netuno, elementos novos da astrologia cuja atribuição de condição de planeta não é nem de longe colocada em prova, seus atributos astrológicos tem uma associação praticamente inexistente com relação a mitologia dos seus nomes. Urano, deus dos céus, pouco tinha de bizarro, original, revolucionário ou iconoclasta, já que ele mesmo foi a primeira forma de “tradição” a ser derrubada por seu filho, Cronos-Saturno; E Netuno , o deus, nada tem a ver com o planeta das ilusões e do êxtase: Nesse sentido, valeria muito mais uma renomeação de Netuno para Dionísio, Deus que contém em sua mitologia muito mais atributos relacionáveis a Netuno do que o próprio deus das águas, cavalos e terremotos.
Ceres (mitologicamente) e Virgem tinham uma forte associação na mitologia romana, tanto que Firmicus Maternus atribuía a deusa Ceres o posto de guardiã deste signo. Acontece que diversas outras deusas das mais variadas culturas tinham também uma forte associação com o signo de Virgem, porque era esta a única representação feminina entre as constelações do zodíaco. Assim o planeta anão Ceres está mais pra uma representação da própria condição de mulher do que uma representação exclusiva de predicados da deusa Ceres . Só que os significados que se deseja atribuir a Ceres atualmente são muito errôneos porque a Lua já responde por tais predicados (como a questão da ‘nutrição’ e do ‘cuidado’). Ceres poderia muito bem estar relacionada a elementos femininos que vão além dos atributos lunares (maternais) e venusianos (eróticos), especialmente porque o signo de Virgem representa o elemento estéril no espectro feminino; Algo que talvez responda por aquilo que vamos entendendo como “a mulher moderna” dentro da cultura ocidental, que vai além dos aspectos reprodutivos/sexuais ou lunares/venusianos. Tanto Ceres quanto Éris parecem ir nessa direção. Querer que Ceres seja uma segunda lua é como querer retroceder, como se o feminino nos dias de hoje não tivesse nada além daquilo que ja é esteriótipo ultrapassado (a cuidadora, a que nutre, etc);
Ceres, até mesmo pelo seu símbolo (que lembra uma foice, tal qual o símbolo de saturno) poderia ser uma forma feminina de Saturno, ou algo que se aproxime disso, mantendo suas próprias características inerentes. Não é uma questão de trocar elementos lunares por saturninos, mas de entender que Ceres é um elemento um pouco mais complexo, mas ao mesmo tempo não tão distante quanto os elementos simbolizados pelos transaturninos.
Ceres, se tiver que representar algo será algo relacionado a cotidiano, a uma dimensão mais imediata da vida, por conta de sua órbita, que é o dobro do tamanho da órbita de Marte, mas ao mesmo tempo pouco menor do que 2/5 da órbita de Júpiter; Sua periodicidade é curta, mais ou menos o tempo de duração ideal de uma graduação universitária. Na média fica cerca de 4 meses e meio em cada signo, ficando retrógrada quase todos os anos ou a cada 1 ano e 3 meses aproximadamente.
O grande problema em relação a produção de significados pra Ceres que eu tenho observado atualmente gira em torno da necessidade dos autores em fabricar respostas prontas e automáticas que englobam um nível miserável de raciocínio em cima do planeta em questão. Uso como exemplo a fixação que eu tenho encontrado em relação ao termo “nutrir”. Tenho visto diversos autores se fixando nisso, e somente nisso pra falar de ceres, e todo o sentido do planeta gira em torno de uma ginástica mental em torno de associações que revelam o jeito de nutrir de cada signo, cada casa ou cada aspecto. Isso se chama simplificação, redução, e é muito simplório. Não significa que Ceres não tenha relação nenhuma com esse termo (se tiver, acredito que a relação é mínima e se dá num nível mais sutil já que nutrição é um assunto da alçada da lua), significa que está se construindo um sentido muito equivocado em cima de Ceres, muito reduzido, e que antes de ser aplicada em mapas, mereceria estudos mais sérios.
Eu quero acreditar que Ceres seja um ponto a ser considerado sim, mas não da forma que eu tenho visto atualmente. Motivos pra se ignorar sumariamente a existência de Ceres na minha opinião não existem, especialmente pela condição especial que Ceres tem em face aos demais asteroides, por ser o maior e por ser a maior concentração de massa de todo cinturão. Palas e Vesta tem menos da metade do tamanho de Ceres, uma massa muito menor e seu formato não é arredondado como o de ceres (talvez a questão do formato nem seja de todo relevante). De qualquer maneira, trata-se de um tema que precisa ser encarado como algo em aberto! Não é momento de se assimilar nada nem em relação a ceres e nem em relação a Éris. Qual conceito trazido agora seria temerário, porque uma coisa necessária pra verificação do sentido de um elemento novo na astrologia é o tempo e a experimentação. Urano levou mais de 1 século pra ter seu sentido compreendido depois que começou a ser empregado em mapas astrológicos de forma experimental em meados do século XIX;
Ceres é um asteróide bem interessante, acredito que novps aglomerados estão ai para ir moldando a astrologia de acordo com a evolução da vida na terra, acredito que a astrologia não será a mesma daqui 2000 anos, precisamos evoluir, imagina se um dia os humanos colonizarem o sistema solar e começar a nascer crianças em vênus ou nos demais planetas? Bom, já estou entrando no campo dos devaneios, parabéns pelo texto.