O processo de descobrimento e assimilação dos novos planetas na astrologia

Esse é o primeiro de uma série de posts onde eu vou tratar essencialmente desses novos planetas na Astrologia. Eu estudo essencialmente a Astrologia Tradicional atualmente, mas antes de embarcar nesta forma de pensar a Astrologia também estudei a Astrologia Moderna, e simplesmente não considero coerente que uma pessoa simplesmente abandone tudo o que estudou a respeito de um assunto só porque ficou exposta a um outro ponto de vista. Sou totalmente contra a anulação total da Astrologia moderna, mas também não posso deixar de considerar principalmente a forma ou o “método” dos Astrólogos modernos que é essencialmente vago ou inexistente. 
Gostaria de expô-los ao texto de um não astrólogo neste artigo. Trata-se de um historiador, Kocku Von Stuckrad, que trata deste tema: do processo de descoberta e assimilação dos novos planetas e asteróides na astrologia, em seu livro História da Astrologia (2007). O texto abaixo é a transcrição do subtítulo “Planeta sobre Planeta”, entre as  páginas 311 e 314: 

Por mais de 2 mil anos astrólogos trabalharam com sete planetas (incluindo-se o Sol e a Lua) e uma série de pontos de cálculo como o eixo do nodo lunar, o Ascendente e a Parte da fortuna. A razão para isso reside no simples fato de que só o olho nu enxerga apenas até o planeta Saturno e que, portanto, o reconhecimento de eventuais “transaturninos” requer a utilização de um telescópio. Pode-se facilmente imaginar como Astrônomos e astrólogos ficaram eletrizados quando o desenvolvimento do telescópio tornou possível a visão de regiões do universo cada vez mais distantes.   É verdade que aquilo que de fato se ocultava  atrás dos fenômenos dependia de uma interpretação – a discussão em torno das afirmações de Galileu Galilei e das “provas” empíricas o evidencia -, porém, cedo ou tarde, impôs-se a noção de que o universo ainda reservava uma série de surpresas.
Para a interpretação astrológica, isso representou um ganho e, ao mesmo tempo, um risco. Se realmente há transaturninos ou outros astros relevantes, então sua inclusão possibilita uma diferenciação da interpretação que abre a visão para aspectos completamente novos da interpretação do horóscopo. Ao mesmo tempo, contudo, surge a questão de saber se o material interpretativo elaborado então não seria, assim, inteiramente relativizado, pois representa evidentemente apenas uma pequena parte do jogo cósmico de forças de fato existente.  Até hoje é possível sentir esta ambivalência na discussão sobre novos astros, pois no século XX foram descobertos, ano a ano, centenas de planetas, planetoides, asteroides, cometas ou meros fragmentos rochosos que basicamente poderiam ser todos candidatos a uma interpretação astrológica. O instituto de astronomia Teórica de são Petesburgo publica anualmente uma lista de asteroides e suas órbitas. Nesse meio-tempo, eles já são mais de 5 mil. É difícil dizer quais entre eles são relevantes do ponto de vista astrológico.  
Como lidar, então, com esse problema? Na corporação há diferentes facções envolvidas numa discussão por vezes encarniçada. De um lado estão os tradicionalistas, que se atém estritamente aos sete planetas clássicos – no máximo, completados por Urano, netuno e Plutão -, com o argumento, sem dúvida vigoroso, de que já existem problemas suficientes em interpretar de maneira adequada as relações múltiplas e extremamente complexas entre esses fatores. Uma ampliação não contribuiria para o esclarecimento, mas, no máximo, abriria as portas à arbitrariedade. Além disso: por que interpretar de igual modo tudo o que pode ser visto no céu?
Do outro lado estão aqueles que insistem – completamente em consonância com a tradição esotérica – em que a descoberta de novos fatores teria um significado específico e que deveríamos nos arriscar a uma diferenciação da interpretação. Plutão é um bom exemplo disso: sua descoberta, no ano de 1930, foi tida posteriormente como claro anúncio da Segunda Guerra Mundial, do nazismoe da bomba atômica (plutônio!); não era, portanto, “coincidência” que o tempo agora estivesse “maduro” para que esses planetas fossem inseridos na interpretação. Algo semelhante ocorreu em relação a Urano, que hoje – como representante do signo de Aquário – simboliza os ideais de liberdade e revolução. O fato de ter sido descoberto justamente em 1781, pouco antes da revolução Francesa, deve ter dado o que pensar! Não é fácil separar aqui causa e efeito. Como só se chega a um acordo a respeito do significado de novos planetas e sua classificação nos signos zodiacais no decorrer de uma longa discussão, é evidente que a interpretação cultural e histórica dos acontecimentos da época influencia decisivamente a formação de interpretações astrológicas. Astrólogos não o negarão, mas via de regra insistem em que a discussão cultural é justamente um reflexo do desenvolvimento geral, como também pode ser percebida em relação aos planetas.
A questão, mais especificamente, é sobretudo sobre os seguintes corpos celestes: após a descoberta de urano foram encontrados cinco asteroides que receberam os nomes de Ceres (1791), Pallas (1802), Juno (1804), Vesta (1807) e Astraea (1845). O maior planeta depois de Urano  foi descoberto em 1846 e chamado de Netuno.   Como Mercúrio não se movimenta de acordo com as leis da gravidade de Newton, supunha-se (com razão) que deveria haver ainda outros fatores que causassem uma tal divergência. Alguns ( por exemplo, o americano Lewis Herman Weston) afirmaram ter descoberto um planeta chamado “Vulcano” entre o Sol e Mercúrio; a inútil busca por Vulcano ainda persistiu mesmo quando foi possível explicar de forma conclusiva a divergência da órbita de Mercúrio com a ajuda da teoria da Relatividade de Einstein.
Com um outro planeta, a situação foi mais favorável: o astrólogo francês Fomalhaut (o padre Charles Nicoullaud) afirmou em seu escrito ‘Manual d’astrologie sphérique et judiciaire’ (Paris, 1897,316) que haveria um transnetuniano ao qual se deveria dar o nome de Plutão. Após uma intensiva busca no observatório Lowell, plutão foi, de fato descoberto no ano de 1930. O achado, no entanto, foi decepcionante na medida em que esse “planeta” era demasiado pequeno para que pudesse ser utilizado em interpretações tão fundamentais, como as que logo foram produzidas na corporação astrológica. Porém, hoje praticamente não há escola astrológica que não considere o fator Plutão –  em razão de suas próprias demonstrações abrangentes de interpretação – como imprescindível. Resta esperar como os astrólogos lidarão com a descoberta do maior objeto do Sistema Solar desde 1930, o corpo celeste no cinturão de Kuiper batizado de Quaoar, segundo um mito indiano. Astrônomos do California Institute of Technology, que descobriram Quaoar em 2002, supõe que lá há ainda outros blocos do tamanho de Plutão, cujo status de planeta tornou-se dessa maneira questionável.
Em 1977, foi descoberto o asteroide Chiron, que, da mesma forma, logo tornou-se protagonista de muitas escolas astrológicas, já que realiza uma órbita bastante excêntrica entre saturno e Urano e, assim, é algo como um “embaixador” entre os “planetas pessoais” cujo círculo se fecha com Saturno, e os “planetas transpessoais”, ou seja, os transaturninos. Ao lado de chiron e dos asteroides do século XIX, a “Lua Negra” também desempenha atualmente um importante papel. O astrólogo inglês sepharial (nomes hebraicos de anjos eram à época muito populares como pseudônimos; na verdade ele se chamava Walter Richard [Gorn] Old) foi o primeiro a descrever esse fator “descoberto” em 1897 e propôs o nome de Lilith (The Science of forecast, Londres, 1918), popularizado a seguir pela americana Ivy M. Goldstein-Jakobsen em seu livro The Dark Moon Lilith in Astrology (Pasadena, 1961). Porém, a busca de um corpo celeste chamado Lilith malogrou e hoje o nome se impôs como denominação do ponto focal da órbita lunar (o apogeu lunar).   
Termina aqui a parte transcrita do livro. 
Em post futuro veremos este assunto mais a fundo. Por que tantos astrólogos modernos relutam em assimilar asteróides, mas aceitam prontamente objetos bizarros como Chiron?