Considerações sobre Saturno, o Grande Maléfico

Particularmente eu prefiro a  visão dos antigos a respeito de saturno, porque eles eram bem realistas, não tentavam florear uma coisa que traz em si justamente os significados daquilo simboliza o que existe de pior na experiência humana. Saturno fala de limitação, medo, restrição, penúria, miséria, condições espartanas, trabalho árduo, decadência e morte. Sob saturno, você faz, realiza, empreende e obtém resultados palpáveis, mas não obtém absolutamente nada em termos de reconhecimento, aplauso, prazer, benefício. Apenas o que for estritamente necessário, obtém bases e garantias, mas não “honrarias”.



Na visão moderna, o que ocorre de ruim na sua vida não se deve ao trânsito de saturno, na verdade se deve a sua incompetência ao lidar com o trânsito. Se coisas ruins ocorrem sob os auspícios daquele que, segundo os antigos, era o arauto do choro e do ranger de dentes, na visão psicologista dos modernos estes infortúnios se devem a sua incapacidade de lidar com o cósmico. Como se a dor, a tristeza, a limitação fossem elementos anormais , ou então, como se fossem elementos que merecessem aplausos e comemorações. Qual o problema em se dar nome aos bois? Qual o problema de lidar com Saturno e com sua verdade nua e crua? Porque censurar a dor? Por que será que parece ser pecado sentir dor? Sentir dor não é errado, não é uma falha, faz parte dos processos, e é saturno quem marca esses momentos normalmente (porque claro, existem mais fatores além de saturno, e é justo lembrar que pra algumas pessoas a experiência saturnina vai ser mais positiva do que pra outras). 



Vamos situar a questão. Uma pessoa está, digamos, com saturno em trânsito formando uma quadratura ao marte natal. Saturno fala então de uma situação exterior, que permeia a mentalidade coletiva em um determinado momento, incluindo aí a mente da pessoa em questão. Saturno neste caso gera um bloqueio sobre as funções marcianas daquele indivíduo. Ele não poderá agir de acordo com seu modo habitual de atuar, porque a autoridade momentânea (saturno em trânsito), que pode inclusive ser manifesta través de um indivíduo que surge e personifica a faceta castradora de saturno (uma figura de autoridade, como um policial, um professor, agente do governo ou o próprio pai da pessoa), simplesmente não admite o modo específico daquele individuo agir.



Imaginemos saturno em virgem quadrando um marte em gêmeos. O modo de agir do marte geminiano é inquieto, ansioso, avesso a regras ou normas. Ele tenta burlar os pequenos obstáculos, tenta criar atalhos, fazer tudo bem rápido, com sagacidade e demonstrações de esperteza. Saturno em virgem, a tal da autoridade momentânea, impõe a observância de regras e a normatização e uniformização como tendências. Saturno em Virgem aprecia tudo o que é mecânico, previsível, que vai por caminhos pré-delimitados. Durante um período onde a mentalidade coletiva funciona de acordo com aquelas norminhas virginianas, um marte em gêmeos se vê em maus lençóis. Neste momento ele se verá forçado a brecar sua forma habitual de agir e se render aquelas tediosas e desnecessárias regrinhas do saturno em virgem. Se pretender enrolar alguém, terá que fazer um esforço sobre-humano pra acobertar seus atalhos porque se ele for pego pelo saturno em virgem, está ferrado. Vem daí as conceituações em torno da quadratura de saturno com o marte natal: é quase impossível brecar este instinto primitivo de ação que é a energia marciana, e num primeiro momento a pessoa estará sujeita a acidentes e confrontos com autoridades. Quando já estiver acostumada com aquela energia, o que sobrevém é a tendência a inércia e o medo de agir, o medo de fazer qualquer coisa que exija da pessoa o impulso marciano.



Não adianta lançar granadas em direção ao céu, nem mesmo um raio laser. Não se pode fazer muito contra o trânsito, por isso é importante observar em que momentos estaremos mais sugeitos as influências de saturno. Este tipo de trânsito é sempre um teste para a paciência, e talvez por isso saturno seja associado ao tempo em si. Sob um trânsito de saturno, você terá de sobreviver funcionando com as funções do planeta afetado em modo standby, em modo hibernação. É isso mesmo. Não adianta se chocar contra saturno, não tem como vencer uma coisa tão etérea e subjetiva, porque no final das contas, saturno não passa de um símbolo pra marcar um determinado período, é o grande delimitador do tempo. São esses os testes para o nosso amadurecimento. Com saturno, aprendemos a agir no momento certo.
Saturno vem periodicamente limitar determinado aspecto do nosso mapa. Impõe-nos a ausência momentânea daquilo, para que aprendamos a poupar recursos, energias, a agir de maneira a aproveitar os momentos favoráveis (quando o olho de saturno não está direcionado para aquele ponto específico). No mapa natal saturno representa um ponto de carência, de medo, insegurança, limitação, apreensão contínua, infinita busca por superação.

A passagem do tempo é um fator saturnino, é este o planeta delimitador de limites, a chamada consciência. Onde temos saturno é onde se encontram nossas angústias pessoais, nossas rusgas, nossas vergonhas. Através do signo, saturno expressa de que maneira a pessoa vivencia aqueles limites, a casa aponta onde os limites estarão presentes e sendo vivenciados da maneira preconizada pelo signo onde saturno se encontra. Os aspectos que saturno forma com outros planetas refletem as áreas da vida que serão vivenciadas com a participação especial do amargor e o peso de saturno, em especial os aspectos partis (1° de orbe), por que estes estarão sujeitos a trânsitos no mesmo momento em que o saturno natal é tocado por algum planeta em trânsito.

Onde temos saturno é onde estamos em constante guerra por superação de barreiras, onde procuramos super compensar nossas carências, onde sentimos necessidade de nos provar, onde somos cruéis conosco mesmos, onde nos exigimos. Compreender saturno é a chave para libertar a si mesmo das algemas da ausência de auto-estima, do medo irracional e das posturas preconceituosas.

Sinastrias envolvendo saturno tem sempre um amargo sabor de inveja, especialmente nos aspectos tensos. Sentimos vontade de esmagar alguém com marte ou júpiter no mesmo grau que o nosso saturno, que exibem com a maior espontaneidade todas aquelas características que nós acreditamos não possuir, quando elas fazem com a maior facilidade do mundo tudo aquilo que nós mais tememos fazer, quando elas, destemidamente, exploram as áreas da vida que nós normalmente procuramos evitar. Essa é uma faceta feia e humana, pouco explorada na maioria dos livros que tratam de sinastria. Em geral diz-se que aspectos de saturno com outros planetas indicam que a pessoa portadora do saturno agirá como um professor para com o portador do outro planeta, o que não deixa de ser verdade. O portador de saturno também limitará o outro, e as motivações disso residem no desespero causado no portador de saturno pela exposição das suas vergonhas, das suas rusgas.

O metal associado a saturno é o chumbo, e não é a toa que a intoxicação causada pela ingestão de chumbo é chamada de “saturnismo”. E é incrível observar a manifestação do arquétipo planetário através dos sintomas desta intoxicação. Ocorrem delírios, onde a pessoa acredita que existe alguém desejando destruí-la. A musculatura progressivamente enrijece, com dores por todo o corpo, os olhos ficam arregalados, as mucosas secas, com aparecimento de úlceras orais, violentas dores abdominais, tremores e inexplicável sensação de frio, sobretudo nas extremidades do corpo (mãos e pés), gosto metálico na boca, progredindo para paralisia motora, convulsões e por fim a morte.