A aproximação da data do Halloween vai fazendo com que muitas histórias sobre bruxas brotem aqui e ali. Mas talvez a história mais triste e mais amarga a esse respeito seja a que de fato ocorreu durante o fim da idade média e o período renascentista na Europa. A publicação do livro Malleus Maleficarum, conhecido como “O Martelo das Bruxas” foi o marco inicial de um dos capítulos mais tristes da história. Centenas de Milhares de mulheres foram perseguidas e acusadas de bruxaria ao longo dos quase 200 anos que se seguiram a sua publicação, sobretudo durante os séculos XVI e início do século XVII. Quase 100.000 mulheres foram condenadas, e talvez a pior consequência desta publicação seja a cultura de repressão as mulheres (até então inédita em termos de propoção e dimensão repressora) que se instaurou a partir dali e que ainda persiste em nossa cultura em diversos aspectos. Essa é uma das principais fontes bibliográficas a respeito da antiga inquisição, que se organizou décadas após sua publicação.
Este livro foi escrito entre os anos de 1485 e 1487 logo após a publicação de uma bula papal que fazia extensiva menção as bruxas e a necessidade de se caça-las. Seus autores foram dois clérigos alemães. A data da primeira publicação foi o dia 9 de Maio de 1487 do calendário juliano, quando o livro foi levado pela primeira vez para aprovação em uma universidade. Apesar de ter sido rejeitado, o livro continuou a ser distribuído e reimpresso por pelo menos 200 anos após sua primeira publicação. Não há horário disponível obviamente, mas mesmo assim podemos dar uma olhada no céu daquele dia em busca de algumas indicações:
Vemos que estava em vigor uma conjunção entre Saturno e Netuno no signo de Sagitário, e que a Lua fazia contato com esta conjunção ao longo de todo o dia. Sabemos que Sagitário é o signo a tratar dos assuntos ligados a Filosofia e Religião, e é sem surpresa que observamos a ênfase deste signo num evento que teve impacto tão profundo sobre esses assuntos nos anos subsequentes. A conjunção entre saturno e Netuno pode ser sintetizada como a materialização de um ideal ou de uma ilusão: quando o assunto é Netuno, ideal e Ilusão são conceitos que se misturam e nos aparecem sem limites bem definidos.
Eu sei que alguns de vocês vão começar a dizer que eu tenho “mania de Éris”, mas pra mim é impossível deixar de notar o posicionamento deste planeta, que forma uma oposição exata com Plutão ao longo daquele ano de 1487. Mesmo sem saber exatamente muito a respeito do que Éris representa, se ela vier a ter importância pra Astrologia fica evidente que o ciclo formado entre ela e Plutão ganhará muita importância. E não é interessante que Plutão estivesse formando uma oposição com Éris justo na época da publicação do livro que foi um dos maiores responsáveis pela instauração de um dos momentos mais obscuros da nossa história, onde a misoginia era disfarçada de religiosidade e espiritualidade e valia como lei para diminuir e praticamente esmagar a já diminuta posição que a mulher ocupava naquela sociedade? Bom, no final dos anos 70 (entre 1977 e 1979), Plutão formou oposição com Éris no mesmo eixo, mas eu não saberia dizer o que existe de paralelo entre aqueles dois momentos.
Só que o que me chama mais atenção ainda é que Éris estava passando naquela época exatamente pelo mesmo setor do zodíaco por onde ela esta passando exatamente agora. Na realidade, o retorno de Éris propriamente, como uma passagem análoga a daquele ano de 1487 se dará em 2012. Éris emergiu aos nossos olhos em 2005 quando ela estava no início do terceiro decanato de Áries, e a ultima vez em que ela passou por esta região foi justamente quando se deu o lançamento do Martelo das Bruxas. Inegavelmente vivemos momentos diametralmente opostos , especialmente se formos comparar a posição da mulher de hoje e a mulher de ontem, da época da caça as bruxas.
A questão é que naquela época, nem Éris e nem Plutão “existiam” (em nível consciente) , o conflito se dava no nível mais absolutamente inconsciente, e hoje em dia conseguimos ver Éris, sabemos que ela existe e portanto estamos conscientes daquilo que ela representa, se é que ela representa algo, apesar de ainda não sabermos exatamente o que é essa coisa representada por Éris. Poder feminino? Não sei, mas essa hipóteses subiu na minha lista de possíveis relações para Éris depois que eu fiz esta constatação.
De qualquer maneira, é triste constatar que ideias tão antigas e ultrapassadas ainda tenham força e influência em nossa sociedade, apesar dos avanços e do crescente poder político que vem sido delegado a mulheres e que vem promovendo um aparente processo de nivelamento. Mas quando vemos o que certas religiões cristãs e de outras culturas professam em relação a mulher, vemos que ainda estamos no começo de um longo processo de transformação. Alguns membros da direita ao se referirem a nossa presidente Dilma Roussef por exemplo, do alto de sua erudição, poder econômico ,privilégios e conhecimento, ao invés de permanecerem no plano das diferenças políticas, partem para ataques assustadoramente misóginos e ignorantes que pretendem ferir a imagem de uma mulher, mas que respingam nos rostos de todas as outras. Já vi inclusive outras mulheres, algumas médicas, outras membros da ordem dos advogados, e pasmem, algumas astrólogas , daquelas que se dizem espiritualizadas, que usam o termo “Bruxa” ao se referir a Dilma da forma mais negativa e misógina possível, ignorando completamente a carga que isso teve no passado e o quanto isso soa de forma ofensivo pra toda e qualquer mulher. Mas é a manifestação de um ódio antigo e hereditário, e que não será extirpado do nosso meio de forma tão simples quanto gostaríamos.