Marte na astrologia tradicional é chamado de pequeno maléfico, mas isso não quer dizer que ele seja um mal realmente ‘menor’ se comparado a saturno que recebe o epíteto de grande maléfico no que diz respeito aos seus efeitos possíveis. Saturno é o grande maléfico porque ele fala dos males, problemas e crises de natureza estrutural e crônica e marte é menor porque fala dos malefícios agudos e repentinos. É como se saturno fosse uma dor crônica, que vem e volta ciclicamente, que pode ser prevista, calculada e controlada. Marte é um ferimento agudo, um corte, uma punhalada, uma queimadura ou uma doença aguda e violenta, que chega sem aviso prévio e logo passa.
Muito da natureza que atribuímos atualmente a Urano na astrologia moderna na realidade sempre foi considerado papel de Marte na astrologia tradicional. Os acidentes e incidentes, revoltas e sedições, comportamentos erráticos, bizarros e vulgares sempre foram também atributos marcianos, assim como a sua natureza instável, ousada, temerária e incitadora da discórdia. Marte é uma energia instável que se bem dirigida se transforma em potência e é capaz de construir, produzir e fortalecer (quando pensamos em Marte como aquele que preside o trabalho e a energia sexual por exemplo). Se não for controlada, ou pior, se for direcionada com finalidades perversas, mesquinhas ou egoístas, Marte é uma imensa dor de cabeça que nos faz dar graças aos céus pelo fato de ele ser tão rápido. Enquanto um trânsito de Saturno dura ao longo de um ano inteiro por exemplo, um trânsito de Marte normalmente dura alguns dias, não mais que uma semana. Mas pontuamos bem – normalmente é assim que ele funciona.
Quando ocorrem retrogradações de Marte, aquilo que normalmente seria apenas mais um incidente, stress, confronto, tumulto ou explosão assume uma condição de permanência que não diminui a sua intensidade , e assim Marte tem o potencial de se transformar na energia que se materializa na forma de um tormento ou tortura. É por isso que se deve evitar o início de atividades de natureza marciana durante as retrogradações, porque elas podem se transformar em fontes de dor de cabeça e demorar mais que o esperado. Assim se planeja iniciar conflitos judiciais, atividades físicas, trabalhos que exigem esforço e empenho constante, cirurgias eletivas, viagens longas feitas de carro, tente na medida do possível escolher momentos com Marte direto para esse tipo de atividade, e de preferência com um Marte minimamente dignificado.
Por isso é interessante termos em mente que o planeta não vai apresentar uma manifestação única ao longo do tempo. Pra ter uma dimensão melhor dos diferentes efeitos de Marte, se faz interessante um estudo detalhado do ciclo de Marte ao redor do Sol, do ponto de vista geocêntrica a partir do prisma da astrologia. Nesta análise, eu divido didaticamente o ciclo em 4 fases, como fazemos com o ciclo da lua ao redor da terra.
1. A aproximação e conjunção com o sol (Marte combusto, sob os raios do sol e cazimi).
O ponto de partida pra analisarmos um ciclo completo precisa ser uma sizígia, termo que designa conjunções e oposições de qualquer planeta com o Sol. A conjunção com o Sol ocorre sempre com Marte direto, e a Oposição ocorre sempre durante uma retrogradação. Vamos tomar como exemplo o ciclo atual a partir da última conjunção de Marte com o Sol pra compreender a anatomia de um ciclo completo de Marte. Esse ciclo vai de meados de 2015 até meados de 2017.
A última conjunção de Marte com o Sol foi em 14 de junho de 2015, e ocorreu aos 23°17′ do signo de Gêmeos. Ao redor da conjunção estão as zonas de proximidade com o Sol em que Marte fica debilitado, a combustão e a região onde ele fica sob os raios do sol.
Desde o dia 10 de abril de 2015 Marte entrou na zona onde ele é considerado sob os raios do sol, o sol aos 20° de Áries e Marte aos 07° de Touro neste dia. A partir daí eles vão paulatinamente se aproximando, com Marte ultrapassando sua velocidade média e se aproximando de sua velocidade máxima que se dá quando ele está em conjunção ao sol propriamente.
Um planeta sob os raios do sol entrou na zona de influência do sol. É como se ele “devesse explicações ao sol” sobre qualquer tipo de coisa que deseja fazer enquanto está nesta zona, estando subordinado a vontade solar. Marte vai se manifestar aí como uma energia impulsiva e temerária, que por sua natureza ígnea, acaba desobedecendo aos comandos solares, o que torna a presença de Marte nessa região algo tenso.
A partir do dia 13 de Maio de 2015 Marte entrou em combustão: as mesmas características de quando ele está sob os raios do sol são sentidas, mas elas se manifestam de forma mais intensa. Mais velocidade, mais impulsividade, mais irritação por consequência, e Marte cada vez mais próximo do sol desafia a sua autoridade com cada vez mais insolência. Neste caso o Sol estava em 23° de Touro e Marte em 01° de Gêmeos quando marte entrou nesta situação.
Entre os dias 13, 14 e 15 de Junho de 2015 Marte então estava em cazimi, região que fica 17′ antes e depois do sol, onde se dá a conjunção exata. Na astrologia tradicional esse momento concede grande dignidade ao planeta em cazimi. Ele e o sol passam a agir em perfeita ressonância, em conjunto e sem atritos. No dia 15 de junho Marte volta para a condição de combustão.
No dia 14 de de julho de 2015 Marte sai da combustão e volta a estar somente sob os raios do sol. Isso ocorre com Marte em 13° e o Sol em 22° de Câncer.
2. A fase crescente, entre a conjunção com o sol e a retrogradação.
No dia 11 de Agosto de 2015 Marte deixa de estar sob os raios do sol . O período que se inicia aí é um dos mais saudáveis do ciclo entre Marte e sol, quando Marte tem uma boa velocidade (e assim age com eficiência) mas ao mesmo tempo não está mais subordinado a vontade solar. Esse período culmina no sextil crescente entre Sol e Marte.
No dia 06 de dezembro de 2015 ocorreu o sextil crescente entre Marte e Sol, com Marte em 13° de Libra e o Sol em 13° de Sagitário. Daí em diante Marte começa a ficar cada vez mais lento, até a quadratura crescente quando ele fica já bem próximo da Shadow Phase onde ocorrerá a retrogradação.
No dia 07 de fevereiro de 2016 ocorreu a quadratura crescente entre Marte e Sol, com Marte em 18° de Escorpião e o Sol em 18° de Aquário. A partir deste momento Marte é considerado lento. Esse já tende a ser um período muito tenso no ano em que a impulsividade marciana causa conflitos e desentendimentos estéreis que prejudicam a eficiência marciana. A tendência é das tensões crescerem até o trígono crescente entre Marte e Sol.Essa quadratura tem a propriedade de desacelerar a velocidade de Marte. As ações intempestivas fora de hora começam a abundar daí em diante.
No dia 26 de Março de 2016 ocorreu o trígono crescente entre Marte e o Sol. Neste ponto a velocidade de Marte está muito lenta, mas a harmonia com o sol leva a possibilidade de realizações e tem um caráter muito construtivo. A lentidão é tamanha que Marte está a ponto de estacionar e iniciar o Movimento retrógrado.
3. A retrogradação (ou fase cheia).
É interessante notar que no ciclo de Marte o ponto onde vai ocorrer o estacionamento vai depender da distância de Marte em relação ao seu periélio e afélio, sendo o periélio a região onde marte está mais próximo do sol e mais rápido (Capricórnio, Aquário, Peixes, Áries e Touro) e afélio a região em que Marte está mais distante do sol e por isso mais lento (Câncer, Leão, Virgem, Libra, Escorpião), tudo isso do ponto de vista heliocêntrico. As retrogradações são mais frequentes em signos próximos ao afélio dada a lentidão de Marte por ali.Os signos de Gêmeos e Sagitário estão em quadratura com o eixo do afélio e periélio marciano, então eles são um meio termo em termos de frequência, velocidade e duração. Nos signos em que Marte está mais próximo ao afélio o estacionamento ocorre logo após o trígono, nos signos mais próximos do periélio o estacionamento ocorre imediatamente antes do quincôncio crescente entre Marte e Sol. O fato é que entre um quincôncio e outro, marte sempre estará retrógrado. Assim as coisas são de tal forma que se você tem o sol em determinado signo, para ter Marte no signo oposto ele obrigatoriamente sempre estará retrógrado em todos os casos.
Outra coisa interessante é a quantidade de graus percorridos durante a retrogradação: quanto mais próximo do periélio, menos graus são percorridos, o contrário ocorrendo nas regiões próximas ao afélio. A título de comparação:
Em 2003 uma retrogradação ocorreu no signo de peixes (passando inclusive pelo periélio que é no primeiro decanato de peixes) entre o grau 10° e 00° desse signo, uma trajetória de menos de 10° portanto. Mas em 2012 uma retrogradação ocorreu no signo de Virgem (passando inclusive pelo afélio que fica neste signo) entre o graus 23° e o grau 03° desse signo, uma trajetória de cerca de 20°.
Nas retrogradações temos 3 pontos de maior tensão e sensibilidade dentro do ciclo de Marte, que são os 2 estacionamentos e a Oposição, grande clímax de todo o ciclo. Os estacionamentos de Marte são tidos na literatura como pontos bem desfavoráveis desse ciclo e sempre ocorrem em algum ponto entre o trígono e o quincôncio do Sol com Marte. Se pensarmos os trânsitos dos planetas como o subir ininterrupto de uma escadaria que na verdade representa a faixa do zodíaco, os estacionamentos e a própria retrogradação podem ser encarados como uma queda que nos leva de volta a um andar já percorrido. O primeiro estacionamento representa o momento em que o chão se abre e a queda se inicia. A queda em si é uma analogia perfeita para o movimento de retrogradação como um todo. O segundo estacionamento, mais nocivo que o primeiro, é o impacto com o solo onde a retrogradação é interrompida e o movimento de subida na faixa zodiacal é retomado.
No ciclo atual temos O estacionamento de Marte ocorrendo no dia 17 de abril de 2016 aos 08° de Sagitário. A partir desta data Marte entra em movimento retrógrado, mas se repararmos bem , Marte praticamente não se move durante mais da metade do mês de abril. É nesse sentido que os estacionamentos de Marte são especialmente daninhos! Uma quadratura de Marte com o o sol por trânsitos gera um período normalmente rápido de stress, trabalho extra e propensão a conflitos estéreis. Mas se a mesma quadratura ocorre com Marte estacionário, na verdade teremos 1 mês inteiro da mesma influência o que pode acabar tendo consequências como ferimentos, doenças ou incidentes em função da quantidade de tempo a que ficamos expostos a uma influência tão instável.
A oposição de Marte com o Sol é a segunda sizígia dentro do ciclo e é portanto o clímax dele, e equivale em importância , a uma lua cheia. Geralmente indica períodos carregados , caracterizados por discórdia e conflitos que nos obrigam a rever posições adotadas a muito pouco tempo. Ao mesmo tempo é um período dinâmico que indica intensa atividade , trabalho e acontecimentos que transcorrem com velocidade, ainda que sejam acontecimentos de natureza ainda instável. No ciclo atual ela ocorre no dia 22 de Maio de 2016 com o Sol em 01° de Gêmeos e Marte retrógrado em 01° de Sagitário.
Fato que não ocorre necessariamente em todas as retrogradações de Marte é possibilidade dele mudar de signo ainda retrógrado. Vemos isso acontecendo no no ciclo atual, onde Marte sai de Sagitário para retornar para o signo de Escorpião. Esse reingresso em Escorpião ocorre no dia 27 de Maio de 2016.
O segundo estacionamento interrompe a retrogradação e leva marte novamente ao movimento direto. É um evento de natureza ambígua: por um lado ele é extremamente tenso e desfavorável de modo geral, bastando que tenhamos em mente a analogia com o impacto com o solo que se segue após uma queda livre. Por outro lado é inegável que o retorno ao movimento direto é um evento positivo, mas somente se levarmos em conta as suas consequências e não pela natureza do evento em si, que tende a ser sentido como o momento mais difícil e pesado de todo o ciclo. Passados alguns dias logo após este estacionamento nosso sentimento é o de estarmos verdadeiramente solucionando os problemas que nos afligiam ao longo da retrogradação.
No ciclo atual de Marte veremos esse segundo estacionamento ocorrendo no dia 30 de junho de 2016 aos 23° do signo de Escorpião. A partir daí se segue um movimento positivo, especialmente a partir de 3 a 5 dias após o estacionamento, quando sentimos as engrenagens da vida se movendo novamente na direção correta. Isso culmina durante o trígono minguante entre o sol e Marte.
4. A fase minguante , da retrogradação até a nova conjunção entre Marte e Sol.
Logo após estacionar e retomar o movimento direto, Marte vai em direção ao seu trígono minguante. É o momento de renovação das energias, onde vemos o planeta retomando sua velocidade paulatinamente, e percebemos que nos assuntos marcianos de nossas vidas as engrenagens começam a se encaixar de forma mais harmoniosa novamente. Tudo ainda segue em um ritmo lento, talvez seja a cautela daqueles que aprenderam com os problemas do passado, mas é justamente esse ritmo que permite que a vide se ajuste novamente. Mas não devemos nos enganar! Daqui em diante o ritmo é o de resolver pendências e finalizar situações inacabadas. Trata-se do momento minguante do ciclo de Marte.
No ciclo atual, esse trígono acontece no dia 17 de julho de 2016, com o Sol em 24° de Câncer e Marte em 24° de Escorpião. Daí em diante Marte vai ganhando mais e mais velocidade até que ele sai da Shadow Phase (no fim de agosto) e começa a se aproximar cada vez mais da quadratura minguante.
A quadratura Minguante tem como principal característica acelerar a velocidade de Marte. Por isso ela é positiva, porque leva as coisas em direção a normalidade novamente. Mas ao mesmo tempo ela é mais pesada porque exige de nós um esforço extra, como num veículo que precisa ser empurrado antes de voltar a funcionar normalmente. Então a sua característica é de esforço e por esse motivo ela também é tensa. Mas aqui temos a certeza de que as consequências são benéficas. Passando nela Marte volta a marchar em sua velocidade a média. O aspecto exato dentro deste ciclo é no dia 13 de setembro de 2016, com o Sol em 21° de Virgem e Marte em 21° de Sagitário.
De volta a normalidade no ciclo de Marte, agora se torna possível dar continuidade e finalizar pendências que podem ter sido interrompidas durante a retrogradação. E assim Marte vai se encaminhando na direção do Sextil minguante com o sol, e o ciclo vai se aproximando do fim dessa forma.
Neste ano, o sextil exato ocorre no dia 27 de dezembro de 2016, com marte em 06° de Peixes e o Sol em 06° de Capricórnio.
O novo ciclo se inicia quando Marte volta a ficar novamente sob os raios do sol, coisa que acontece no ano que vem a partir do dia 31 de Maio de 2017, quando o processo da conjunção de Marte com o Sol se inicia novamente.