A constelação de Escorpião é uma das constelações do zodíaco , localizada ao sul do equador celeste. É uma das constelações mais antigas e isso se deve ao seu asterismo facilmente reconhecível. Ela se localiza numa das regiões onde a Via láctea cruza o plano da eclíptica, muito próxima do centro da galáxia, numa região particularmente estrelada do céu. Se estende inteiramente nas longitudes zodiacais que atualmente correspondem ao signo de Sagitário no zodíaco tropical. Fica próxima das constelações de Libra, Sagitário, Ophiucus, Lupus e Altar.
Atualmente a eclíptica cruza esta constelação por apenas 6 dias no ano, o que da margem para confusões midiáticas que envolvem a existência de um 13° signo do zodíaco, já que a eclíptica cruza Ophiucus na maior parte do tempo em que seria considerada em Escorpião no passado. Isso acontece em função dos limites geométricos definidos para as constelações em 1922 pela União internacional de Astronomia.
Mitos Associados a constelação de Escorpião
Os mitos sobre essa constelação tem duas variantes maiores: O Escorpião como um guardião a serviço de alguma divindade maior , o que acontece na Mesopotâmia e no Egito antigo, as vezes assumindo a forma de um homem-Escorpião. A segunda variante encara o Escorpião como o instrumento da vingança de alguma divindade, e existem ao menos 3 mitos gregos que relacionam o Escorpião a constelação de Órion dessa forma.
Mesopotâmia
A constelação de Escorpião está relacionada a lenda do homem-Escorpião na antiga Suméria. Não existia apenas um homem-escorpião, mas múltiplos. As lendas diziam que eles eram filhos de Tiamat (um equivalente a Gaia grega, mas em forma de Dragão) e foram criados durante a guerra travada entre Tiamat e os deuses mais jovens. Há muita similaridade entre esse mito e o mito posterior grego sobre a guerra dos titãs contra os Olímpicos. Assim os homem-escorpião eram soldados de Tiamat e a manifestação do seu ódio contra o que era novo.
Após o fim da guerra de Tiamat contra os outros deuses , Shamash, o deus-sol do submundo passou a usar os serviços dos homens-escorpião como guardas dos portões do submundo. E é ao se dirigir ao submundo que Gilgamesh se depara com essas criaturas em sua famosa epopeia, que o interrogam e permitem que ele atravesse o portão ao constatar sua natureza divina.
Egito Antigo
O Egito antigo contava com a deusa Serket-Heru (Selkis em grego), que as vezes assumia a forma de um Escorpião, as vezes um híbrido com corpo de Escorpião e cabeça de mulher, e mais frequentemente a forma de uma mulher que usava um escorpião em posição de ataque como uma espécie de coroa. Além de proteger os mortais das picadas de animais venenosos , ela era também uma deusa da saúde em geral e ajudava as mulheres em seus partos. Tinha uma íntima relação com o Deus sol Rá, as vezes sendo considerada sua mãe, as vezes sua filha, e por isso era associada ao sol do meio-dia. Os sacerdotes do culto de Selkis eram também os médicos locais, apesar de isso não ser uma exclusividade do culto dessa deusa. A estrela Antares, alfa do Escorpião, era uma representação dessa deusa no céu.
A constelação de Escorpião também poderia ser uma representação do Escorpião que picou e matou o Deus Hórus. E a oposição do Escorpião com a constelação de Orion, que representava Osíris, pode lhe atribuir uma relação com a deusa Isis, que as vezes emprega os Escorpiões como seus guardiões pessoais. É fato que durante sua peregrinação em busca do corpo desmembrado de Osíris espalhado pelo Egito, Isis era acompanhada de um pequeno exército pessoal de Escorpiões emprestados por Serketh.
Mundo Helenístico
Todos os mitos da constelação de Escorpião na Grécia antiga a relacionam diretamente a constelação de Órion. No mais antigo desses mitos, Órion era um gigante monstruoso que ameaçava extinguir toda a vida da face da terra, o que despertou o ódio de Gaia que pariu de seu ventre (que era também a própria terra) um Escorpião gigantesco que colocou um fim a vida de Órion, restaurando o equilíbrio entre as criaturas deste mundo.
Em mitos que aparecem em poetas de período mais avançado, Órion aparece como um exímio caçador, que pelo seu amor a caça, se apaixona pela própria deusa da caça, Ártemis. Um dia ele a espiona enquanto se banha nua junto das ninfas, e a deusa injuriada faz brotar da terra um Escorpião gigante que o destrói. Ele também aparece como o interesse romântico da própria Ártemis, que se apaixona por ele tanto pela sua beleza quanto pela suas habilidades. Mas isso desperta os ciúmes do deus Apolo, que é irmão gêmeos de Ártemis. E nesta versão do mito, o Escorpião de Apolo persegue Órion, e Ártemis ao tentar acertar o Escorpião, acaba acertando acidentalmente o seu amado.
Essa relação entre Órion e Escorpião se deve ao fato de que essas constelações tem asterismos extremamente marcantes e fáceis de se identificar , e se localizam em posição relativa de Oposição: Enquanto Órion ascende, o Escorpião se põe, e quando o Escorpião ascende, é Órion que se põe. Touro, signo oposto a Escorpião, é a constelação que está ao lado de Órion, mas como Órion está mais inclinado ao sul, ele acaba em uma posição mais paralela a de Escorpião no céu.
O Escorpião em outras culturas
A astronomia chinesa, a nossa atual constelação do Escorpião era incluída na representação do dragão azul do oriente, junto da constelação de Libra e parte das constelações de virgem e sagitário, sob o nome de Qinglong. No Japão era chamado de Seriyu, ou Shyriu, e era guardião da cidade de Kyoto. Está associado a primavera, por ser a porção do céu a estar mais visível no céu durante a primavera daquela região do planeta. Era representado na bandeira da Dinastia Qing chinesa, que governou de 1644 a 1912.
Na mitologia dos povos indígenas brasileiros, a constelação de Escorpião é muito importante. Para indígenas da região amazônica, essa constelação representava uma surucucu, maior serpente venenosa do Brasil, e se estendia inclusive por algumas estrelas da constelação de sagitário. Para indígenas guarani da região mais central e sul do país, essa constelação representava uma cobra de fogo, relacionado ao mito que conhecemos como Boitatá.
Anatomia da Constelação de Escorpião
Escorpião é uma constelação de tamanho médio, apresentando cerca de 497° graus quadrados no plano celeste. Apesar de ser uma constelação zodiacal , ela fica mais ao sul do que o ponto mais ao sul da eclíptica, o que faz com que ela se torne difícil de ser visualizada em plenitude em latitudes superiores a 45° norte. Na Antártida, a maior parte da constelação é circumpolar e ela se torna completamente invisível em latitudes superiores a 70° norte. Mesmo em cidades como Londres ou Nova York, existem algumas estrelas dessa constelação que nunca ascendem (especialmente a região da cauda, que se projeta mais para o sul).
O Brasil tem posição privilegiada para observação dessa constelação e ela é uma das que mais se destacam em nosso céu. Todos os estados do nordeste são representados por estrelas da constelação de Escorpião na bandeira nacional, com exceção da Bahia:
- Piauí: Antares (alfa)
- Maranhão: Acrab (beta)
- Ceará: Larawag (epsilon)
- Rio Grande do Norte: Shaula (lambda)
- Paraíba: Girtab (kappa)
- Pernambuco: Denebacrab (mu)
- Alagoas: Sargas (theta)
- Sergipe: Apollyon (iota)
É uma constelação localizada em uma região particularmente estrelada do céu, que é atravessada pela via láctea e que conta com diversos objetos de importância astronômica, especialmente na região próxima a Sagitário onde se localiza o centro da Galáxia. Além disso , seu asterismo marcante e o vermelho inconfundível de sua estrela alfa a torna uma das constelações de mais fácil identificação até mesmo para leigos.
Dschubba delta (δ) | 02°54′ de Sagitário |
Fang pi (π) | 03°17′ de Sagitário |
Iklil rho (ρ) | 03°27′ de Sagitário |
Acrab beta (β) | 03°31′ de Sagitário |
Jabbah nu (ν) | 04°59′ de Sagitário |
Alniyat sigma (σ) | 08°08′ de Sagitário |
Antares alfa (α) | 10°04′ de Sagitário |
Paikauhale tau (τ) | 11°48′ de Sagitário |
Larawag epsilon (ε) | 15°41′ de Sagitário |
Denebacrab mu (μ) | 16°29′ de Sagitário |
Grafias zeta (ζ) | 17°34′ de Sagitário |
Lesath upsilon (υ) | 24°21′ de Sagitário |
Shaula lambda (λ) | 24°55′ de Sagitário |
Sargas theta (θ) | 25°56′ de Sagitário |
Aculeus NGC6405 (m6) | 26°04′ de Sagitário |
Girtab kappa (κ) | 26°47′ de Sagitário |
Apollyon iota (ι) | 27°51′ de Sagitário |
Acumen NGC6475 (m7) | 29°05′ de Sagitário |
Para compreender melhor o significado dessas estrelas, vamos dividir a constelação em partes: Cabeça, corpo e ferrão do Escorpião. Note que a constelação de Libra é quem na verdade corresponde as garras do escorpião, da qual não trataremos aqui.
Cabeça do Escorpião
A cabeça do Escorpião é a região mais próxima a eclíptica e que forma uma pequena linha perpendicular ao restante da constelação que tem uma forma de serpente. Inclui as estrelas Dschubba, Fang, Iklil, Acrab e Jabbah e é a representação da cabeça do animal. Fang é o nome desse asterismo na astronomia chinesa que forma uma de suas mansões lunares, e Iklil o nome desse asterismo e mansão lunar na prática árabe mais antiga. Dschubba e Jabbah são variações do mesmo termo árabe representando a testa do animal, enquanto que Acrab significa “pinça” aqui marcando o que seria a boca do Escorpião.
O Corpo do Escorpião
A estrela Alfa da constelação, Antares, marca o coração do animal e é a estrela mais brilhante e mais importante da constelação, e uma das mais importantes e significativas para a astrologia. O nome significa “inimiga de Ares” e guarda consigo um sentido essencialmente marciano. Ela é cercada por duas estrelas de menor importância, Alnihyat e Paikauhale que simbolizam as veias e artérias que alimentam o coração.
A estrela epsilon, Larawag, marca o que seria a região ventral do animal, o fim do abdômem, enquanto que DenebAcrab (literalmente rabo com pinça) e Grafias estão na base da cauda do Escorpião.
O ferrão do Escorpião
As estrelas Girtab, Apollyon e Sargas formam a parte final da cauda do Escorpião. Girtab é o termo akadiano arcaico para se referir a toda a constelação de Escorpião na verdade. O ferrão propriamente dito é formado por Shaula e Lesath. Shaula Significa “ferrão” em árabe, e Lesath significa a mesma coisa mas tendo origem no grego e influencia na grafia atual vinda do francês.
Os objetos Aculeus e Acumen são aglomerados estelares e não fazem parte do asterismo da constelação, estando próximas a parte final dela. Na verdade existem diversos outros objetos na região, mas esses são os que seriam possíveis de se observar a olho nu em uma noite bem escura.
Significado Astrológico da Constelação de Escorpião
A constelação de Escorpião como um todo tem um significado associado a Marte, e isso é fácil de entender quando pensamos no Escorpião como um animal com uma aparência hostil, um corpo altamente blindado pelo seu exoesqueleto, “braços” convertidos em armas, uma calda que termina em um ferrão que frequentemente dispõe de um veneno mortal, a depender da espécie da vítima. Mas vai um pouco além.
Se pensarmos que o Escorpião a centenas de milhões de anos habitava os oceanos , e veio a se tornar por força da necessidade e das transformações no planeta num dos primeiros grupos de artrópodes (e animais em geral) a habitar o ambiente terrestre, temos a ideia de um animal que é adaptável as condições mais hostis, que é resiliente e que foi forjado para sobreviver, para vencer a morte. Além disso vemos nas mitologias que o Escorpião é criado/convocado pelas divindades em situações onde elas vivem paixões muito intensas. Frequentemente o ódio, mas também o ressentimento, o desamparo e os ciúmes. Assim Essa constelação simboliza essas paixões mais intensas e cruas, das quais frequentemente não nos orgulhamos, mas que são essencialmente humanas, e aparece como um instrumento de vingança.
Quando o ódio nos cega, quando nosso orgulho é mortalmente ferido, quando o crime é imperdoável e completamente injusto, quando não temos mais nada a perder: É nessas situações que assumimos a postura bélica do escorpião, abrimos os braços , erguemos a calda e atacamos sem hesitar, só parando quando matamos ou morremos. Somos possuídos por Nêmesis e nos tornamos momentaneamente, agentes da destruição e da morte, nossa ou do outro, de maneira preferencialmente figurada, mas as vezes tragicamente literal. E as paixões podem se tornar no mais mortal dos venenos, tanto para os outros quanto para nós mesmos. Então quando autores antigos falavam tanto em “envenenamentos e intoxicações” para descrever a ação desta constelação, eles provavelmente não falavam apenas do veneno literal, mas também do veneno subjetivo, produzido pelo pensamento e pelas emoções.
A cabeça do Escorpião compreende 5 estrelas distribuídas entre 02° e 04° de sagitário e influenciando do 01° ao 05° de sagitário. Tem uma natureza mais relacionada a saturno e mercúrio , e significam sangue frio, inteligência, esperteza e malícia, tino para os negócios e sucesso em atividades que exigem precisão. Pode produzir antipatia e impopularidade se estiver influenciando elementos do mapa que falam da imagem pública ou personalidade, devido a um excesso de ousadia, gosto por polêmicas, a profanar o que é sagrado aos outros e a tocar em tabus. Dschubba e Acrab são as estrelas de maior destaque nessa região e tem o mesmo significado.
De 08° a 11° de sagitário temos Antares (exatamente no grau 10° de Sagitário) e as estrelas que marcam as veias e artérias do coração, no corpo do Escorpião. Dessas a estrela mais importante é Antares, que pode ter uma orbe mais larga de 2 a 3 graus, influenciando portanto a região que vai de 07° a 12° de Sagitário. É uma estrela que tem a natureza de Júpiter e Marte e representa uma influência passional, corajosa, competitiva, vindicativa e retaliadora. Para quem nasceu no século XX, a posição exata dessa estrela é no grau 09° de sagitário. As pessoas influenciadas por Antares tendem ao sucesso nos esportes, em atividades militares e a uma natureza ambiciosa e inclinada para a liderança. É uma das estrelas de significado mais bélico, significando pessoas de índole confrontativa e vingativas. Está em oposição exata a outra estrela de natureza bélica e regida por Marte e Júpiter e tão importante quanto ela: Aldebaran, o olho da constelação de Touro. Vai indicar pessoas de personalidade forte, exuberante e implacável. Ainda no corpo do Escorpião, a estrela Larawag tem pequeno destaque, tendo uma natureza semelhante a de Antares mas muito mais discreta. Se localiza em 15° de Sagitário atualmente e é destacada aqui por ser uma das mais brilhantes da constelação depois de Antares.
Na cauda do Escorpião temos um conjunto de outras 5 estrelas, onde as estrelas de maior destaque são Girtab e Sargas. Elas se distribuem entre os graus 16° e 27° de Sagitário. Elas tem a natureza de Saturno e Vênus e não são consideradas como importantes na literatura. Devemos destacar que a cauda de um Escorpião tem um significado semelhante ao de uma arma, como uma espada ou punhal e por isso terá a interpretação genérica da constelação como um símbolo de perigo, mas ao mesmo tempo de coragem e de conflito.
O ferrão do Escorpião compreende duas estrelas importantes: Shaula e Lesath, ambas em 24° de Sagitário. As duas tem a natureza de Marte e Mercúrio e são associadas a ideia de veneno. Dentre elas, Shaula se destaca por ser a segunda estrela mais brilhante da constelação atualmente. Interpretamos essas estrelas como significando o veneno de maneira abstrata como a ideia de manipulação, além do significado literal de veneno. A depender de como essas estrelas incidem , a pessoa tanto influencia e “envenena” as ideias e emoções dos outros para o bem ou para o mal, ou é a vítima de “envenenamentos” dessa natureza.
Aculeus e Acumen são dois objetos (aglomerados estelares) localizados sobre a via láctea e o ferrão do Escorpião, em 26° e 29° de Sagitário respectivamente. Como todos os aglomerados, tem o significado da cegueira (porque quando vistos a olho nú, parecem pequenas manchas).