O Zodíaco e a mitologia Greco-Romana, por Manilus

Quanto mais longe se vai no estudo da Astrologia Tradicional, quando mais se avança no passado e se entra em contato com outras formas de se pensar a Astrologia, mais percebemos o quanto cada conceito é mutável e é contaminado pela ideologia cultural que predomina em cada momento. Hoje a visão da astrologia é permeada intensamente com conceitos da moderna psicologia e também das correntes espiritualistas. Mas em outras épocas, para outras culturas a Astrologia recebia outros ingredientes em sua composição de significados e interpretações.

Por exemplo, os antigos Romanos misturavam de uma maneira bastante flagrante sua religião com conceitos astrológicos, tanto que até hoje o nome dos planetas é uma referência ao que se utilizava em Roma a quase 2000 anos atrás. Não somente os Planetas recebiam esta carga de influência religiosa, víamos isso também nos signos do zodíaco.

Manilus, um dos mais importantes astrólogos do antigo império Romano nos fornece uma lista daquilo que ele chamou de ‘guardiões’ de cada um dos signos do zodíaco. Aquilo que entendemos hoje em dia sobre os mitos romanos pode diferir ligeiramente daquilo que eles entendiam ao formular tais conceitos, mas é evidente que o sumo da questão se mantém ao longo do tempo. Creio que podemos tirar desta lista então novos pontos de vista: podemos pensar cada um dos signos de uma maneira diferente, ao comparar o que o signo realmente representa com o que representava antigamente cada um dos seus guardiões.

Áries – Palas (Atena dos gregos)

Palas- Atena era a deusa da guerra e das batalhas justas e personificava a justiça, a estratégia e a sabedoria. Nasceu da cabeça do próprio Zeus e foi uma de suas filhas preferidas: é como a mais brilhante de todas as idéias que Zeus já teve. Nunca se casou, se interessava mais pelas vitórias e os assuntos dos homens do que com o amor ou o casamento. Era a protetora dos guerreiros que perseguiam a justiça e governava as guerras que eram feitas de forma limpa. Era muito cultuada especialmente em épocas de guerra e estava associada também ao cumprimento das leis.

Touro – Vênus (Afrodite dos gregos)

Vênus foi a deusa da beleza, do amor e da fertilidade. Representava o prazer e a alegria, mas era uma deusa caprichosa, ciumenta e exigia muitos sacrifícios dos seus adoradores. Era muito luxuriosa, mas quis o destino que ela se casasse justamente com o mais feio dos deuses, porém um dos que mais a amou, Vulcano, deus do fogo, da forja e do trabalho. Isso não impediu que ela se tornasse uma das mais célebres adúlteras da mitologia, sendo seu amante preferido o asqueroso Ares, deus da guerra e da violência.

Gêmeos – Phoebo (Apolo dos gregos)

Apolo foi o deus da beleza, da arte, da música, da razão e era personificado pelo Sol. Em contraste com Ares, que representava o que existia de pior no universo masculino, Apolo representava o que existia de melhor, mais belo e mais perfeito no universo dos homens. Era irmão gêmeo de Ártemis, sua contraparte feminina deusa da lua, da caça e da liberdade. Foi um dos deuses mais cultuados, eram famosos seus oráculos e era um dos mais homenageados pelos filósofos antigos. Era bissexual, seus amores foram múltiplos mas em geral é um dos deuses com a mais trágica das vidas amorosas.

Câncer – Mercúrio (Hermes dos gregos)

Mercúrio era o braço direito de Júpiter, e era o deus mensageiro, que governava o comércio, a palavra escrita e a inteligência. A esperteza e a velocidade, assim como a eterna juventude eram seus maiores atributos. Ele era também um Deus dos viajantes, sendo as encruzilhadas locais que lhe são associados. A rapidez e a troca são suas principais características.

Leão – Júpiter (Zeus dos gregos) 

Júpiter era o Deus dos Deuses e de todos os mortais. Governava o céu e era o soberano supremo a governar o olimpo. Seus símbolos eram a águia e os raios. As tempestades também lhe são atribuídas e são sinais de sua fúria ou de seus caprichos, especialmente quando acompanhadas de seus icônicos raios. Enquanto que sua esposa era uma personificação das mulheres e da fertilidade, Zeus era uma personificação da fertilidade masculina. Seus mitos são recheados de aventuras sexuais e seus descendentes são muitos, filhos das mais diversas mães, dentre mortais e imortais.

Virgem – Ceres (Deméter dos gregos)

Ceres ou Deméter era a deusa da agricultura e da maternidade, ela presidia o plantio e a colheita e governava as estações do ano. Seu culto era obviamente muito difundido, já que a agricultura sempre foi o principal meio de sobrevivência da humanidade. Na verdade foi Ceres quem criou as estações do ano; Muito ligada a sua filha Perséfone, que foi raptada e vive nos Infernos como a esposa de Hades, Temos Primavera e verão durante a parte do ano em que Perséfone vive com sua mãe, e temos o outono e o inverno que representam a depressão de Deméter pelo fato de sua filha ter de voltar para o inferno junto de seu marido.

Libra – Vulcano (Hefesto dos gregos)

Vulcano era um Deus dos homens, era  representado por um ferreiro e personificava o trabalho. O fogo e a forja eram seus atributos e ele foi o grande engenheiro divino, fabricando tudo o que deuses precisavam. Uma de suas principais criações foi a mulher: Pandora, forjada em sua oficina, foi a primeira de todas as mulheres, até então o mundo era povoado somente por homens. Era muito feio, mas apesar disso era casado justamente com Vênus, deusa da beleza e do amor.

Escorpião – Marte (Ares dos gregos)

Marte ou Ares era outro deus das guerras, mas diferente de Atena ele governava a violência, os crimes e a carnificina. Na guerra de Tróia, Ares se posicionou a favor dos Troianos, enquanto que Atena protegeu os gregos, que receberam a vitória. Assim foi a representação de que a inteligência se sobrepõe a violência. Quem queria lançar o mal ou destruir a vida de algum inimigo, seja na guerra ou mesmo no cotidiano, lançava mão de sacrifícios para Ares. Ele era detestado por todos os outros deuses, com excessão de Afrodite, que o tinha como seu amante preferido.

Sagitário – Diana (Ártemis dos gregos)

Diana era a deusa da caça e era personificada pela lua, regia a luz e a magia associada a este astro. Era representada por uma jovem extraordinariamente bela, mas intocável por qualquer homem, mortal ou imortal e representava também a liberdade da vida selvagem. Era irmã gêmea de Apolo, e da mesma forma que seu irmão representava aquilo que existe de feminino nos homens, ela representava o que existe de masculino nas mulheres, porque era independente e auto-suficiente.

Capricórnio – Vesta (Héstia dos gregos)

Apesar de o nome de Vesta ter chegado aos dias de hoje com menos ‘glamour’ do que os nomes de outros deuses como Apolo ou Afrodite, por exemplo, Vesta foi sem dúvida uma das deusas mais cultuadas, talvez tanto quanto o próprio Zeus. Ela era uma deusa do povo, governava os lares e as cidades e se orava a ela pra pedir pela felicidade e estabilidade da família. Cada casa tinha um pequeno altar, que ficava próximo das lareiras, em homenagem a Vesta. Representa a pureza feminina, o serviço doméstico e toda forma de discipulado, ou seja, aquela  humildade que se tem ao se curvar diante de um mestre. Ela era a filha primogênita de Saturno e é uma representação das mulheres solteironas e da castidade.

Aquário – Juno (Hera dos gregos)

Juno era a esposa de Zeus e era a deusa dos homens. Ela personificava muitas das viscitudes tipicamente humanas e protegia as cidades, o desenvolvimento urbano e estava associada a política de modo geral. Era também uma deusa do casamento, pilar da manutenção de uma sociedade contínua. Era uma representação masculinizada das mulheres, tanto que em alguns mitos gregos ela era tida como hermafrodita. Era a portadora da Romã, e simbolizada pela vaca e pelo pavão, todos símbolos máximos da fertilidade.

Peixes – Netuno (Poseidon dos gregos)

Netuno era o deus das águas e dos mares. Todos os outros sub-deuses associados as águas como os deuses dos rios e das chuvas eram subordinados a ele. Ele governa portanto aquilo que existia de mais misterioso na natureza, e mais essencial, a profundeza dos oceanos a as águas que nutrem e destroem o mundo. Era também o deus dos cavalos, e portanto era o deus dos viajantes, já que as viagens naquele tempo se faziam somente a cavalo ou de navio, através dos mares. Era também um deus do inesperado e da tragédia: os terremotos eram associados a ele.

Para nós, algumas dessas associações entre signo e guardião não são tão óbvias, mas como eu disse, em outros tempos a lógica funcionava de maneira bem diferente. Por exemplo, no caso do Deus Mercúrio sendo associado ao signo de Câncer, devemos lembrar que os significados de Câncer estavam muito mais associados ao fato de este signo ser o domicílio da Lua, planeta mais rápido, que representa o movimento e as coisas transitórias. Neste caso faz sentido o guardião do domícílio lunar ser um deus cujas caracteristicas estão muito mais próximas da lua, já que antes de falar de sentimentos ou da mamãe, a lua representa essencialmente o movimento e a rapidez. Não significa que para os romanos, o planeta Mercúrio tinha qualquer domicílio ou poder no signo de Câncer, longe disso.

Temos que entender que o nível de personificação que se dá aos signos hoje em dia não existia antigamente, ao menos não da mesma forma. Um signo era muito mais como um local, um território. O deus como guardião daquele território não precisaria estar associado necessariamente ao planeta que regia o signo, até porque vários deuses não eram corporificados em planetas.

Pra muitos que tentam fazer uma associação entre deuses do panteão olímpico, nada melhor do que analisar as associações que já existiam antigamente, sem a poluição dos viéses atuais, mas coma  visão de alguém que vivia aquela religião e que realmente compreendia o que cada um daqueles deuses realmente representava, além de ter vivido na época em que os pilares daquilo que usamos como Astrologia estavam sendo erguidos.

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