Carlos Drummond de Andrade

Ontem foi aniversário do Drummond, e o mapa dele, cujos dados são conhecidos, é bem curioso pra análise. Não sou um grande fã de poesia, prefiro prosa, mas isso não significa que eu não saiba reconhecer um grande escritor quando diante da obra de um. Minha professora de Português no ensino médio se arrepiava e faltava apenas desmaiar quando as aulas se centravam em textos do Drummond, que ela fazia questão de trazer sempre que tinha uma oportunidade. Isso é por conta da intensidade e do alto grau de intimismo que percebemos quando lemos os textos do Drummond. Apesar das estruturas perfeitas, cristalinas e quase musicais, a sensação ao se ler um poema dele em silêncio, é a de que ele está sussurrando aquelas palavras nos nossos ouvidos. Vamos ver este mapa então. Drummon nasceu no dia 31 de outubro de 1902, as 6:00 da manhã, na cidade de Itabira-MG. Veja o mapa:

Não é assustador? Um escorpiano triplo. Ele nasceu quase que no momento exato de uma lua nova aos 7° de Escorpião, e o Ascendente também era o signo de Escorpião. Camada tripla de intensidade. Escorpião é paixão, é vísceras, é dor e gozo, tudo isso ao mesmo tempo. Uma verdadeira novela mexicana, o mix perfeito pra se fazer um poeta: este já nasceu poeta. Era alguém que tinha uma facilidade imensa pra expor seus sentimentos, entrar em contato com o mais profundo que existia de si mesmo, com uma fidelidade e uma coragem ímpar. A obra de Drummond é do tipo que você sente que não criação de mente ociosa, chega a ser difícil inclusive imaginar alguém escrevendo aqueles textos, tem-se a impressão de que eles foram paridos, inteiros, sem mácula, sem poluição, fiéis as entranhas do seu gerador. Mas óbvio, com Vênus e Mercúrio em libra ele sabia florear seus poemas com rimas e torna-los esteticamente impecáveis, e sabia também humanizar seus contos e crônicas, mas sempre sem profanar a essência do que dizia.

Marte em Virgem é o almutem figuris, o grande regente deste mapa. Denuncia o extremo perfeccionismo e a personalidade que se expressava de forma um tanto seca, um tanto crítica, um tanto rabugenta. Era exigente e rigoroso, principalmente consigo mesmo, e produziu muito ao longo de sua extensa vida. E Virgem também aponta pra forma límpida e clara pela qual suas ideias jorravam. Ele fazia questão de ser preciso, de não dar margem a confusão, ao mesmo tempo em que dava margem a que o leitor se identificasse e se apropriasse dos seus sentimentos expressos em poema. Não era como os poetas rebuscados, ele não falava em metáforas e sua eloquência era direta, límpida e pertinente. É ler e se identificar. Isso é ser simples, e é assim que funciona um Marte em Virgem: sem acrobacias, sem encenações. Simples, preciso e direto ao ponto.

A ausência de Fogo no mapa apontava pra uma certa falta de autoconfiança, coisa que frequentemente fica evidente em seus poemas. As vezes temos a impressão de que ele está se diminuindo. Ao mesmo tempo, o meio do céu em Leão, único posicionamento de fogo no mapa, indica que muito embora ele não conseguisse se enxergar desta forma, sua imagem pública refletia algo grande, algo que jamais foi esquecido.

Júpiter em Aquário tinha grande impacto sobre sua personalidade por estar em conjunção ao fundo do céu e pela tensão que forma com a lua nova, e fala de um pensador livre, liberal e humanitário. mas isso é para o mundo o la fora. Em casa, na intimidade, dominava o intimismo, a possessividade e a intensidade da Lua em Escorpião.

Drummond não escreveu apenas poesias, escreveu também contos e crônicas. E era como cronista e contista que a limpidez reinava e a ironia dominava os textos de forma tipicamente escorpiana. Seus textos são simples, claros, fluidos. Talvez seja isso que o fez tão popular. Foi e a ainda é o poeta mais influente do nosso país, tendo sua obra traduzida em diversas línguas. Veja abaixo um dos seus contos mais interessantes e atuais:

A OPINIÃO EM PALÁCIO

O Rei fartou-se de reinar sozinho e decidiu partilhar o poder com a Opinião Pública.

― Chamem a Opinião Pública ― ordenou aos serviçais.

Eles percorreram as praças da cidade e não a encontraram. Havia muito que a Opinião Pública deixara de freqüentar lugares públicos. Recolhera-se ao Beco sem Saída, onde, furtivamente, abria só um olho, isso mesmo lá de vez em quando. Descoberta, afinal, depois de muitas buscas, ela consentiu em comparecer ao Palácio Real, onde Sua Majestade, acariciando-lhe docemente o queixo, lhe disse:

― Preciso de ti.

A Opinião, muda como entrara, muda se conservou. Perdera o uso da palavra ou preferia não exercitá-lo. O Rei insistia, oferecendo-lhe sequilhos e perguntando o que ela pensava disso e daquilo, se acreditava em discos voadores, horóscopos, correção monetária, essas coisas. E outras. A Opinião Pública abanava a cabeça: não tinha opinião.

― Vou te obrigar a ter opinião ― disse o Rei, zangado. ― Meus especialistas te dirão o que deves pensar e manifestar. Não posso mais reinar sem o teu concurso. Instruída devidamente sobre todas as matérias, e tendo assimilado o que é preciso achar sobre cada uma em particular e sobre a problemática geral, tu me serás indispensável.

E virando-se para os serviçais:

― Levem esta senhora para o Curso Intensivo de Conceitos Oficiais. E que ela só volte aqui depois de decorar bem as apostilas.