O Retorno de Saturno

Talvez esse seja o trânsito mais importante que pode ocorrer na vida de uma pessoa, em nível de equivalência talvez com as passagens do próprio saturno pelo ascendente ou Meio do Céu. Mas o retorno do senhor do tempo para o local que ele ocupava no mapa de nascimento a cada 29 anos serve para marcar, de forma irreversível, a inexorável passagem dos anos. Durante o retorno de Saturno nos tornamos mais serenos, vivemos um real processo de amadurecimento e nos conscientizamos da realidade: Os anos se passaram, ainda estamos “aqui” e essa é a vida que temos. Expectativas diminuem após o retorno e a vida passa a ser vivida com mais consistência e serenidade. O período anterior ao retorno, entretanto, durante a fase minguante do ciclo de Saturno, pode ser angustiante e vivido como uma irracional “corrida contra o tempo” onde pouco se sai do lugar.
No caso do Primeiro retorno de Saturno, o período que o antecede é uma espécie de interlúdio entre a adolescência e uma entrada mais definitiva para a vida adulta. O  primeiro ciclo de Saturno é vivido como uma fase de preparação, onde cada avanço feito por Saturno através do seu trânsito é um passo dado em direção a maturidade, onde tudo é vivido com certo ineditismo e onde não se tem experiência suficiente pra se tomar as decisões mais inteligentes. Até o nosso 29° ano de vida Saturno vai tocando cada ponto do nosso mapa, chamando atenção para as falhas e exigindo reestruturações. A aproximação do retorno pode ser acompanhada de uma certa angústia em relação ao desconhecido, como se após o retorno fosse ocorrer algum tipo de “morte”, o que não deixa de ser verdade. O que realmente ocorre é um corte, onde finda a fase de desenvolvimento e se tem que passar a conviver com o irrevogável status de adulto e todas as responsabilidades acarretadas. Bem sabemos que algumas pessoas abraçam esse status muito cedo, mesmo quando ainda não estão totalmente preparadas, as vezes por pressões externas (morte dos pais, mudança de país, vivências limítrofes, etc). E sabemos também de casos de pessoas que já passaram do seu retorno mas que ainda não aceitaram o fim do estágio de desenvolvimento e renegam suas responsabilidades. A questão é que o retorno de Saturno estabelece um limite, um ponto onde seremos invariavelmente considerados adultos e onde se espera um mínimo de estrutura de vida independente construída.
O segundo ciclo é a repetição da passagem realizada por Saturno por todo o zodíaco, com o diferencial de que agora o sentimento não é mais de ineditismo, mas sim de familiaridade, como se estivéssemos revisitando locais por onde passamos antigamente, mas que não tivemos a oportunidade de aproveitar inteiramente a experiência naquele momento. Na segunda passagem teremos a oportunidade de reviver certos processos, agora num nível maior de independência e de consciência do que está  nos acontecendo. A possibilidade de uma decisão mais inteligente ser tomada agora é bem maior, as recompensas pelos acertos são maiores, mas também são maiores as responsabilidades e consequências em função das más escolhas. O primeiro ciclo tem um sabor de ensaio, o segundo as coisas acontecem pra valer. E tende a ser ao longo do segundo ciclo de Saturno que a maioria das pessoas consolidam suas vidas, seus propósitos. É quando firmam suas estruturas de vida, quando tem a oportunidade de ser e viver plenamente tudo aquilo que é possível.
A fase minguante do segundo ciclo de Saturno pode ser vivenciada com o mesmo sentimento de angústia vivido no primeiro ciclo, mas agora por um motivo diferente. Novamente, o que Saturno vai simbolizar através do seu segundo retorno é um corte, desta vez marcando o fim da vida adulta e o início da velhice. Óbvio que “velhice” é um termo que levanta algumas controvérsias em função dos níveis de qualidade de vida da sociedade atual. O segundo retorno, que geralmente ocorre entre os 57 e os 59 anos de idade vai deixar claro, independente de a pessoa estar ou não “velha”, que ela chegou num limite de suas condições físicas, e a tendência natural, dali em diante, é a de que se não houver cuidados, sua saúde sofrerá inevitáveis desgastes, o que pode aproximar o momento do derradeiro fim de sua vida. Então a confrontação a que se é submetido no segundo retorno de Saturno é em relação a possibilidade real da morte, que dali em diante deixa de ser uma visão e passa a ser uma possibilidade bem concreta. Por outro lado, esse mesmo sentimento “limítrofe” pode contribuir para que se procure viver melhor o que ainda resta da vida, levando a pessoa a superar muitos dos seus limites e a experimentar muito do que evitou ao longo de toda sua vida. Vale lembrar que é normalmente após o segundo retorno de Saturno que a maioria das pessoas se aposenta.
E após o segundo retorno de Saturno se inicia um terceiro ciclo, e vai depender da disposição individual e das condições de vida da pessoa se ela vai levar este ciclo até o fim. A tendência, especialmente para aqueles que nasceram com posicionamentos de Saturno bem fortes em seus mapas, é de que se abandonem completamente quaisquer medos e limitações e que se viva a vida com mais leveza. Mas muitos acabam se agarrando ao que viveram no passado, na época em que eram jovens e mais ativos, e esses são normalmente os que nascem com posicionamentos fracos de Saturno, os que não conseguem perceber com clareza o significado da nova fase em que estão inseridos. Esses acabam não percebendo que a recusa em aceitar a realidade – a velhice que é imposta sem escolha – é que acaba por acelerar o processo de deterioração. Vive melhor aquele que entende a nova condição e passa gastar todas as fichas em experiências e vivências. Aquele que decide parar de viver porque se recusa a seguir em frente sem as condições de que dispunha no passado, estará desperdiçando seu tempo  e indo diretamente para os braços da morte. Mas quem escolhe viver o que ainda tem pra ser vivido corre o risco de vivenciar o raro terceiro retorno de Saturno, aproximadamente aos 87-88 anos de idade, dessa vez sem as angústias da juventude, sem expectativas ou medos: apenas a serenidade e um sentimento de desligamento dos problemas mundanos. Essa vai ser aquela pessoa que realmente terá vivido tantas vezes o mesmo tipo de experiência, que certamente estará imune aos medos ou a frustrações, e caminhara serenamente, sem pretensões e apegos em direção a um fim de vida digno.      
   
Antigamente, bem antigamente, a mais de 200 anos atrás e além, o primeiro retorno de Saturno frequentemente era o último entre a maioria das pessoas, em épocas onde a expectativa de vida não costumava passar dos 30 anos entre o povo comum, e uma pessoa que chegasse aos 50 poderia ser considerada um verdadeiro matusalém.  Hoje em dia, se espera que a maioria das pessoas viva até o segundo retorno de saturno e um pouco além dele, isso na maior parte do nosso planeta, em função dos muitos avanços da medicina, mas obvio que isso não é válido entre pessoas que vivem em condições de miséria.
É bobagem encarar Saturno simplesmente como um distribuidor de Carmas: tudo o que ele faz é pura e simplesmente demarcar através do seu ciclo os diversos estágios de maturidade de uma pessoa. Ele não trás nada de especial quando retorna, ele apenas simboliza um limite, uma ponte entre duas fases distintas de vida. Não há castigo, ‘colheita’ ou premiação, não há nada disso. Aliás, as expectativas giram muito em torno de termos como estes. O retorno pode ser a frustração dessas expectativas sem ir muito além disso. O que resta após o retorno é um sentimento de serenidade, a sensação de um novo começo.
Entretanto, eventos específicos podem ocorrer pra cada pessoa, a depender de como está Saturno no mapa, e essa será uma questão absolutamente individual. O “formato” e a natureza dos eventos varia, mas o processo e o resultado final tende a ser o mesmo pra todos. Cada pessoa tem Saturno em um determinado signo, em determinada casa e regendo determinados setores de sua vida e tudo isso tende a ser remexido durante o retorno, sem sombra de dúvidas. Pra algumas pessoas será mais fácil, pra outras pessoas mais difícil, vai variar infinitamente. A questão é que invariavelmente, em todos os casos se terá a mesma idade, e para todas as pessoas de uma determinada idade a sociedade espera mais ou menos o mesmo: Existe uma estrutura cíclica-social na qual todos estão inseridos, e é disso que fala o ciclo de Saturno, é este o tema fundamental do retorno e que é compartilhado por todos.