Crítica a “Astrologia”

Recebi este artigo de um leitor do blog, que me pediu para escrever um comentário na forma de um post aqui. Antes de ler então o texto que escrevi, sugiro que faça o download do arquivo aqui neste link:
O texto é uma crítica tecida por um Astrofísico de Portugal a respeito da Astrologia. Como a maioria dos textos escritos por astrônomos sobre astrologia, há ausência de conhecimento a respeito do que é realmente a astrologia. Isso não significa que a astrologia não seja algo passível de críticas, incontáveis críticas legítimas podem ser tecidas a respeito da Astrologia. Mas os astrônomos em geral criticam a astrologia pelo motivo errado.
A ignorância a respeito da astrologia é algo que pode ser tolerável, especialmente quando levamos em consideração que muitos astrólogos são profundamente ignorantes, incapazes de formular conceitos, sem os conhecimentos mais fundamentais e históricos dessa ciência, ou como exigem os “cientistas”, “ciência” (entre aspas, já que se trata de uma ‘pseudo-ciência’). O motivo disso é histórico, e tem haver com o processo de queda da astrologia no século 18 e o seu ressurgimento no século 19, de uma forma completamente caricata e deformada. A astrologia foi reinventada no século 20  num formato polido que visava refletir de volta as críticas que lhe eram feitas e que ocasionaram sua queda. Pra isso os novos astrólogos encheram a astrologia de conceitos alienígenas a ela, misturando-a com psicologia, metafísica, espiritualidade, espiritismo, e uma séria de outras coisas cujo único intuito é o de resistir a exigência da validação científica, numa tentativa estúpida de transformar a astrologia em algo similar a um fenômeno parapsicológico, que é inexplicável por si mesma. Assim, para muitos astrólogos o conceito do que é verdadeiramente a Astrologia é profundamente equívoco. Ignorantes, eles vão pelo mesmo caminho dos que atacam a astrologia, endossando o ataque ao tentar defendê-lo.
O principal desses ataques é “a astrologia diz que os astros influenciam o homem moralmente, psicologicamente, fisiologicamente, emocionalmente (etc). ”. Para sustentar esta “influência”, alguns astrólogos vão pelos caminhos mais obtusos, valendo-se de conceitos religiosos e metafísicos como, por exemplo, a explicação quântica que hoje em dia está na moda. O que ocorre é que de fato não sabemos se há ou se não há uma influência, e se tal influência é evocada ou citada em textos antigos ela entra apenas como figura de linguagem, porque o fundamento da astrologia é totalmente outro, coisa que eu já repeti mais de uma vez aqui neste blog. Os astrônomos atacam um conceito que não pertence a astrologia, mas que é ERRADAMENTE sustentado e defendido das mais diversas e ridículas maneiras por muitos astrólogos. 
A astrologia não estuda os astros, e estuda menos ainda as possíveis influências desses astros. Não é essa a preocupação da astrologia. Então não pode ser feita uma crítica em relação a este fator. Mas o que, afinal, é a astrologia, qual é então seu fundamento?
A astrologia estuda fundamentalmente o Tempo. O mapa astral de uma pessoa é calculado tomando como base o espaço-tempo em que a pessoa nasceu. O mapa astral de qualquer coisa é a representação simbólica do espaço-tempo em que surgiu esta coisa. Para a Astrologia, o tempo possui qualidades específicas. Cada planeta no céu é como o ponteiro de um relógio com 7 ponteiros principais. As disposições destes ponteiros são únicas, e uma mesma configuração jamais se repete. Cada ponteiro tem seu ritmo particular e por este motivo reflete uma qualidade de tempo específica,  e a conformação desses 7 ponteiros é sempre única, nunca antes ocorreu e nunca mais voltará a ocorrer. As previsões astrológicas existem em função dos ciclos formados por estes ponteiros (trânsitos, direções, progressões), ou pela análise da qualidade de tempo de um determinado momento (horária).
Tratamos então do Tempo, elemento físico ainda pouco entendido e que coloca a astrologia em solo bastante movediço. Mas, se críticas tem de ser feitas, elas precisam respeitar este princípio fundamental.
A tradição astrológica é fomentada no septanário e nos 12 signos do zodíaco. Críticas são feitas também a esses dois elementos fundamentais. Por exemplo, no texto que eu coloquei disponível acima, de forma bastante engraçada o autor diz que a astronomia “desmascara” a astrologia, “aniquila a astrologia” quando ele cita alguns fatores mal compreendidos.
Ele cita a precessão dos equinócios, e o fato de o Sol passar por uma constelação que está fora do zodíaco, a do Ofiúco. Mais uma vez, essas críticas são feitas movidas pela ignorância. Vamos entender o que acontece. Em relação ao fato de as constelações usadas na astrologia estarem erradas, não, elas não estão. A astrologia não se preocupa com a influência nem dos planetas, muito menos das constelações ou dos signos. O céu para astrologia é muito mais representativo. A natureza essencial dos signos não é ditada exatamente pelos símbolos, mas por outros elementos, as qualidades primitivas. Áries representa qualidades de audácia e impulsividade por ser quente, seco e cardinal, e não por ser simbolizado por um carneiro. Então não importa a constelação que apareça agora no local onde para a astrologia está o signo de Peixes: não há influência direta. A constelação em questão pode ser qualquer uma, isso não interfere na natureza essencial do signo, que é demarcada de outra forma, que independe de constelações. Os signos são marcados em consonância com as estações do ano, porque a astrologia faz uso de um zodíaco Tropical, onde temos que Áries começa onde se inicia a primavera do hemisfério norte, e cada signo vai iniciando 30° depois, um após o outro. Mesmo o zodíaco sideral não reflete com exatidão as constelações, já que temos constelações imensas como a de virgem, que ocupam muito mais do que 30° do céu, e constelações pequenas como Câncer e Áries. Mesmo o zodíaco sideral divide os signos igualmente, com a diferença de que a sideral leva em conta a precessão dos equinócios.   O sol pode passar onde ele quiser, até mesmo em ofiúco, isso não faz a menor diferença. Até porque signo solar é uma invenção dessa astrologia caricata dos séculos 19, 20 e não significa nada.
A simetria do septanário é um dos elementos mais importantes da astrologia. O septanário são os planetas visíveis, os ponteiros que eu posso ver ao sair na rua num dia de céu limpo, à noite e olhar com meus próprios olhos quando eu penso no céu como um relógio. Além do sol, é composto também pela lua, por mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Para alguns críticos, a existência de novos planetas derrubaria essa lógica simétrica dos 7 planetas, que seria quebrada por um número em constante crescimento de novos planetas e asteróides descobertos todos os dias. Seriam “novas energias”, “novas influências” que teriam o dever de serem absorvidas pelos astrólogos. Mas isso não é verdadeiro. Não há a necessidade de se agregar novos planetas, a lógica do septanário não se modifica por conta deles, especialmente porque não posso ver eles a olho nu. Isso não impede os astrólogos de estudarem seus ciclos, em especial os  de maior relevância (Urano, Netuno, Plutão, Éris e Ceres). Obviamente que a formo como Urano, netuno e Plutão foram absorvidos pela astrologia, sem nenhum critério, de forma afoita, com significados atribuídos de forma muito arbitrária. Eu por exemplo sou a favor de uma revisão criteriosa não só dos significados destes 3 planetas como de uma revisão total do papel que eles tem na astrologia. A forma como eles são usados hoje é perigosa, visto que eles têm ciclos muito lentos, mas acabam recebendo o mesmo nível de importância que a Lua numa leitura.    
O uso de Quiron é uma aberração na astrologia. Sua incorporação aconteceu em um momento em que sua órbita mal havia sido mapeada. Hoje se sabe que a instabilidade dele é tão grande, que existe a possibilidade de ele nem estar exatamente onde dizem as efemérides atuais. Fora o fato de que existem zilhões de outros corpos idênticos a Quiron. Mais uma vez a culpa é dos astrólogos, não da astrologia, por incorporar um novo elemento de forma automática, atribuindo a ele significados aleatórios, baseados exclusivamente no nome com o qual foi batizado. Como rebater uma crítica como esta? Ainda que eu não professe exatamente este tipo de astrologia, são esses astrólogos os que responderam em nome da astrologia ao longo de todo o século passado.
Bom, sem a necessidade de me alongar tanto, acho que consegui deixar claro que a crítica feita pelo senhor Luís de Almeida não foi feita para a astrologia, ainda que aquilo que ele ataca seja defendido como “astrologia” por uma série de “astrólogos”. Mas a verdadeira astrologia é passível de críticas, de questionamentos, só que esses devem ser feitos por alguém que entenda minimamente do assunto, e respondidos pelos que de fato entendem da astrologia.
Como já escrevi sobre este tema antes, convido os leitores a lerem os posts já escritos aqui neste blog sobre este assunto (escolhi os mais recentes):
E aqui o texto de um outro autor, o Astrólogo, filósofo e estudante de astronomia pela USP , Alexey Dodsworth